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23 de jan. de 2012

Como Fazer Custos Numa Fábrica

Este artigo apresenta uma proposta para custeio de produtos em uma fábrica, após observações práticas de muitos equívocos, diversidade de conceitos e pouca efetividade na metodologia adotada em muitas indústrias (provavelmente na grande maioria).

Desta forma, em primeiro lugar, é preciso desconsiderar os critérios de quem trabalha com custeio por absorção, ABC e fórmulas similares. Normalmente, esses critérios (alguns tradicionais, outros nem tanto) fogem do bom senso de quem precisa de uma metodologia prática, vinculada ao dinamismo de mercado e que permita avaliar o desempenho da produção na realidade do cotidiano.

Assim sendo, proponho aqui uma metodologia que considera os seguintes passos:

1. Em primeiro lugar, e antes de mais nada, procure saber qual seria um preço razoável para seu produto, considerando o valor praticado pelo mercado. Estime o preço praticado pela concorrência observando o preço de venda nas lojas, procure usar sua própria experiência. É o olhar de fora para dentro.
Não estou dizendo que o cálculo do custo para definição do preço de venda não seja importante. O problema é que, normalmente, as empresas se preocupam em definir o preço com base no custo (olhar de dentro para fora), esquecendo de verificar a disposição do mercado em comprar, de auferir a situação da demanda (se o mercado aceita um preço de R$ 200, porque eu venderia por R$ 100?).

2. Em segundo lugar, identifique todos os custos variáveis, aqueles que variam de forma proporcional com o preço. Por exemplo: impostos sobre venda, comissões, frete, etc.
No caso do frete, há que se considerar se o preço de venda será CIF ou FOB. Se for FOB, não entra no cálculo, já que será cobrado à parte. Se for CIF, deve ser estimado, já que normalmente irá variar conforme tipo de entrega, regiões a serem atendidas, clientes, etc.
E aqui temos que considerar algo muito importante: a mão de obra, seja direta ou indireta, não faz parte dos custos variáveis, portanto não entra nesse cálculo.
É impressionante como é muito comum considerar a mão de obra para fabricação de produtos como custo variável, mas isso não é correto.
Isso acontece pela insistência em se medir o tempo de trabalho gasto para fazer um determinado produto, sendo atribuído um custo a esse tempo padrão. Nada mais equivocado, até mesmo no que diz respeito à acurácia da medição desse suposto tempo de fabricação por produto. Afinal, se a empresa ficar parada, sem produzir ou vender nada, os salários continuam sendo devidos, precisam ser pagos. Portanto, mão de obra é custo fixo, não se computa no custo variável nem mesma aquela gasta na fabricação de um determinado produto. Isso ficará mais claro de ser percebido conforme observarmos os passos seguintes.
E só para enfatizar: se sua empresa faz isso, pare imediatamente de ficar cronometrando o tempo gasto para fabricar um produto. Essa informação, além de muito trabalhosa, e de duvidosa validade, é totalmente desnecessária.

3. Terceiro passo: identifique o custo da matéria-prima do produto. Só da matéria-prima necessária para sua fabricação, descontando os impostos que são creditados (afinal, esses já são considerados no percentual de custo variável do passo dois). Além disso, adicione o custo do frete da matéria-prima, se esse for cobrado separadamente.
Importante: muitas matérias-primas são adquiridas com prazos de pagamento diferente. Não faz sentido considerá-las com o mesmo valor na hora de fazer o custo, pois o dinheiro tem valor no tempo. Por isso, é importante que você defina um percentual de custo financeiro (que não deve ser muito baixo, nem muito alto, use a taxa de captação de dinheiro em banco como referência). Use essa taxa para descontar as compras de pagamento à prazo, trazendo seu custo para valor presente (é até um bom parâmetro para avaliar quais materiais podem vale a pena comprar à vista).

4. Quarto passo: agora que temos o custo dos materiais usados no produto, precisamos definir um índice de marcação, um mark-up, que não precisa ser o mesmo para todos os produtos.
Qual seria esse índice? Vamos saber com a experiência, por tentativa-e-erro. Começamos definindo um índice que, multiplicado pelo custo do material, irá nos dar um preço que julgamos razoável, conforme nossa experiência de mercado. Não se preocupe com a precisão inicial desse índice, ele é apenas uma referência para começarmos a definir o preço, podendo ser mudado depois. Lembre-se do que foi dito no passo 1.
Observe que esse é o preço para venda à vista, devendo ser aplicado um custo financeiro para definição do preço de venda a prazo.

5. Em quinto lugar, vamos considerar se esse preço é rentável. Como fazer isso? Pegamos o preço e diminuímos todos os custos variáveis e o custo da matéria-prima, conforme calculamos acima. Chegamos a um valor que chamarei de GANHO (que, para muitos, seria a margem de contribuição).
Agora que encontramos o Ganho, verificamos facilmente quanto ele corresponde do preço final do produto. Mas saber o Ganho de um item não é tudo, precisamos estimar quanto poderíamos fabricar se só produzíssemos esse produto durante um mês.
E aqui chegamos a um ponto essencial: ao fazermos esse exercício, temos que identificar os gargalos da empresa. Esse é o ponto mais importante na comparação com metodologias como custeio por absorção ou ABC, que consideram todos os setores, todos os processos, todos os custos, como se tudo fosse igualmente importante. Na verdade, para cada produto em uma empresa (para cada processo), existe um - e apenas um - gargalo, e esse é o ponto mais importante em um processo produtivo. Se conseguirmos reduzir ou eliminar esse gargalo, o resultado melhora automaticamente, surgindo outro gargalo (só que agora num nível mais elevado). É essa falta de visão da empresa como um sistema dinâmico, que é a visão tradicional do contador e do consultor, que leva ao custeio errado, tão comum nas organizações. E, certamente, essa visão distorcida de custos implica em preços que não refletem a realidade de um processo produtivo, trazendo consequências negativas para a empresa e, por extensão, para a sociedade.
Nesses termos, o que é mais rentável: um produto que propicia Ganho de 30% ou outro que propicia ganho de 40%? O preço que me dá um Ganho de 20% ou um preço que me dá um ganho de 50%?
A resposta é: depende! Não necessariamente o maior Ganho significa maior lucro no final do mês.
De que adianta um preço que leve a um Ganho de 50%, se, a esse preço, só consigo vender poucas unidades por mês, mantendo uma estrutura produtiva e de vendas subutilizada?
Considere agora que se possa fabricar dois produtos, um que gera Ganho de 20% e outro de 30%, sendo que o preço de cada um está de acordo com o que o mercado pede. Qual deve ser a prioridade de vendas e produção? O produto que gera o retorno maior, com Ganho de 30%?
Novamente a resposta é: depende! De nada adianta um produto gerar um Ganho maior se sua produção é limitada por causa de um gargalo na produção. E, se esse mesmo gargalo não existir no produto com Ganho menor, permitindo que se produza uma quantidade muito maior, que mais que compense a diferença percentual? Teríamos uma situação onde o produto que gera Ganho de 20%, ao final, gera mais resultado para empresa que o produto com Ganho de 30%.

6. Para finalizar, é preciso avaliar se o Ganho apurado no cálculo do custo, conforme visto, é suficiente para cobrir as despesas fixas da empresa. Se for, temos que avaliar se há possibilidade de vender a um preço mais alto, para aumentar o Ganho ainda mais - evite entrar em guerras de preço. Se não for, cabe avaliar o que pode ser cortado nos custos fixos, se há como tornar mais eficiente ou processo ou, então, se é o caso de simplesmente desistir daquele produto. Observe que, assim procedendo, não estamos contaminando o preço dos produtos com estimativas baseadas em custos fixos, que é um erro tão comum de muitas metodologias.

Enfim, calcular custos, e definir preços, não é um processo estático, como considera a maioria das metodologias que tratam do assunto. Antes o contrário, a definição de preço é um processo dinâmico, que deve levar em conta os movimentos de mercado e a capacidade da estrutura produtiva, ou de vendas, da empresa. O uso indiscriminado de técnicas como custeio por absorção ou ABC, além de muito trabalhoso (muito custoso) não nos permite ter essa visão, da empresa como um sistema dinâmico, do preço como fator de ajuste entre as demandas de mercado e eficiência interna.

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