Não gosto de fazer compras. Além do ato (muito negativo
pra mim) de gastar dinheiro, o custo de oportunidade é alto (trânsito, fila,
carregar compras, etc.). Mais que isso, apesar de não comprar uma grande
variedade de itens e não variar muito minhas compras, acabo sempre tendo que ir
a dois supermercados diferentes, pois nunca consigo comprar tudo que gostaria
no mesmo lugar - ou, pelo menos, não com a mesma qualidade.
Mas, nessas visitas aos supermercados, algumas
questões me intrigam... Por exemplo, de tempos em tempos, parece que eles mudam
a disposição das prateleiras de alguns setores, ou mesmo mudam um setor inteiro
de lugar, aparentemente sem uma explicação muito lógica para isso - como se
mudar, por si só, fosse necessário. Para aquele cliente, como eu, que já está
acostumado a entrar meio que automaticamente no estabelecimento, ir aos mesmos
lugares e comprar as mesmas coisas, tal mudança gera um grande tormento. Não
seria mais lógico deixar os consumidores acostumados, familiarizados, em
comprar os itens que gostam, sabendo onde os encontrar, sem precisar de maiores
rodeios? Será que eles acham que, tendo que sair perambulando, para encontrar
os itens que fui comprar, vou ficar propenso a comprar outras coisas, que não
estavam na lista de compras? Bom, se eles fazem isso, tenho que pensar que é
capaz de existir gente que é induzida por esse truque...
Outra coisa que verifico - mas nesse caso é em apenas
em um dos supermercados que frequento - é a falta de carrinhos de compras com
tamanho pequeno. E, é interessante, parece que em determinados dias ou horário eles
escondem os carrinhos pequenos, pois não os encontro em lugar algum: não estão
no estacionamento (primeiro lugar que olho, logo quando chego), não estão junto
ao caixa (sempre é um bom lugar para conseguir carrinho abandonado por quem já
passou as compras) ou mesmo nas dependências do supermercado... Há de existir
alguma sala secreta para esconder carrinhos de compras! E é horrível para
alguém que compra pouca quantidade, que já leva sua fiel caixa de papelão de
estimação, ter que ficar circulando com aquele carrão de compras, barulhento,
exagerado e ruim de manobrar (seria necessário um espaço de mão dupla entre as
prateleiras). Será que eles acham que um carrinho de compras maior leva o
cliente a comprar mais, como se o objetivo fosse apenas encher o carrinho?
Mas pior mesmo foi algo que verifiquei mais
recentemente. Um dos supermercados que frequento permitia até 30 itens no caixa
rápido. Beleza, era lá que eu priorizava as compras. Um belo dia, no entanto,
colocaram um cartaz com o número 15 sobre o 30! Que droga! Por que fizeram isso?
Bom, de um lado, se o concorrente mantinha a política
de caixa rápido com 15 itens, eles não estariam perdendo muito em adotar a
mesma quantidade. Decerto que pensaram em fazer isso para tornar o caixa rápido
ainda mais rápido, sem a necessidade de contratar mais funcionários.
Provavelmente devem ter mesmo diminuído a quantidade de atendentes no caixa
rápido. Eu, particularmente, não lembro de já ter visto todos os caixas
funcionando ao mesmo tempo.
OK, mas... Será que eles não percebem que diminuir custo
nem sempre significa, ao mesmo tempo, obter ganho? Eu, particularmente, diante
dessa nova política, reduzi minhas compras nesse supermercado. Agora compro
exatamente 15 itens, não mais próximo de 30, como fazia antes. É uma bela
redução. E faço isso porque, se eu comprar mais de 15 itens, terei que
enfrentar caixas muito mais cheios, mais lentos, porque o supermercado diminuiu
a quantidade de itens para o caixa rápido, mas não aumentou a quantidade de
caixas normais em funcionamento. Ou seja, trata-se da pior ideia possível para
se gerenciar um gargalo: diminuir as vendas! E os caixas são um tremendo
gargalo nas operações de supermercado. Quantas pessoas, ao chegar num
supermercado e darem de frente com caixas lotados, com filas enormes,
simplesmente não dão meia volta?
Talvez o exemplo mais característico dessa visão
estreita, de custos em primeiro lugar e o cliente em segundo (mesmo que isso
implique em restrição no faturamento), é o caso da cidade de Vitória-ES. Há
alguns anos foi firmado em convenção coletiva que os supermercados não podem
mais abrir aos domingos! Talvez seja a única capital do Brasil com essa regra
absurda. Além disso, nos demais dias, passaram os estabelecimentos a fechar às
23h, e não mais à meia-noite.
Ou seja, em Vitória, os supermercados pouco se
importam em facilitar o atendimento para os clientes que trabalham, que têm
restrição de horários ou mesmo em aproveitar eventual demanda complementar aos
domingos. Não interessa o aumento de
vendas, não interessa a comodidade ao cliente, só o que interessa são os
custos!
Em todo caso, talvez o errado seja eu mesmo. Afinal,
é da índole do brasileiro se adaptar, apelar para jeitinhos, ao invés de
reclamar e lutar por seus direitos e pelo que é justo. Tanto é assim que aceita
ser expropriado pelo governo, pagando impostos altíssimos a troco de quase
nada, e ser verdadeiramente manipulado por empresas de setores como bancário,
telefonia, combustível, montadoras e até supermercados!
Se o brasileiro paga caro e não reclama, nada mais
natural que receba um tratamento de segunda categoria, tanto da iniciativa
privada, quanto do serviço público.