No primeiro ano de faculdade
de direito cursei uma disciplina chamada "Sociologia do Direito", que
era ministrada por uma professora entusiasta do marxismo.
Essa professora não apenas
sonhava com um suposto sistema socialista ou comunista. Ela idolatrava Karl
Marx. A ponto de dizer, em uma das aulas, que ele havia sido um "ótimo
marido".
Como é que é?
Fiquei pensando... Seria ela
apaixonada por Karl Marx? Imaginei se, na casa dela, haveria uma foto de Marx
no criado-mudo ao lado da cama. Quem sabe na parede, um grande retrato daquele
homem sisudo e barbudo, como que vigiando o ambiente e lhe dando conforto. Será
que ela, até mesmo, dormiria abraçada aos volumes de "O Capital"?
É surpreendente os efeitos
que o marxismo, verdadeira religião, causa em certas pessoas - particularmente nas
que não superam aquela fase final da adolescência, quando estamos mais
propensos a esses sonhos de igualdade, como se o mundo fosse tão simples e
facilmente classificável pelo maniqueísmo marxista (onde os capitalistas são os
bandidos e os trabalhadores os mocinhos).
Mais que isso, qual a
relevância de alguém ser bom ou mau marido, ser solteiro, homossexual, divorciado,
ou qualquer outra classificação social, para validar ou não a relevância de seu
pensamento, de suas teorias?
Pior ainda no caso de Marx,
já que os registros históricos indicam que ele não era tão "bom
marido" assim, pois teve um filho com sua empregada. Como a professora,
que se julgava entendedora do marxismo, admiradora desse homem, não teve
conhecimento desse fato? Ou será que teve e ignorou, em nome de sua paixão?
Para ficar um pouco pior
ainda, nessa classe, havia um senhor, funcionário público na Receita Federal
(devia estar perto da aposentadoria), que também era entusiasta cego do
marxismo. A ponto de ficar furioso e falar alto contra qualquer questionamento
que colocasse em dúvida os ensinamentos de Marx e Engels. Reverenciava todo
aquele que atuasse "em nome do socialismo", mesmo que diante do mais
escrachado populismo: por exemplo, tratava com grande respeito o
"Presidente Chávez"!
E eu naquele meio, pensando:
o que estou fazendo aqui? Por que não pedi dispensa dessa matéria de
"economia"?
Naturalmente, faltei o máximo
de aulas que pude dessa disciplina.
Nas provas, questionei as
questões com tendência marxista, colocando as coisa em seu devido lugar. Não
tirei nota máxima, mas a professora foi esperta o suficiente para não me dar
nota baixa. Afinal, em um eventual recurso, poderia ter suas concepções e
preconceitos desmascarados.
E assim seguiu o curso de
direito.
Porém, chegando ao quarto ano
do curso de direito, já em outra faculdade (por motivo de mudança e
transferência), eis que me vejo em situação parecida. Desta feita, na
disciplina "Direito
Econômico".
Além de ter que aguentar,
mais uma vez, toda aquela ladainha de viés marxista, sem fundamento, com graves
falhas de lógica e falta de bom senso, também tive que ouvir conceitos econômicos
explicados de forma errada. A ponto de, em determinada aula, a professora falar
em "vantagem comparativa negativa". Fiquei com pena de retrucar...
Para piorar, certa vez, ela
escreveu no quadro um trabalho opcional para a aula seguinte:
DISSERTAR SOBRE O TEXTO
ABAIXO:
Princípios Econômicos e a
Base do Sistema Econômico do art. 170 da Constituição Federal
Karl Marx e Engels foram os
principais sistematizadores da teoria que hoje é defendida notadamente por
grande parte da doutrina.
"Economia está para o direito
assim como o grão está para a casca, em uma relação de conteúdo e forma".
Declaram que o "direito sem a economia é vazio e a economia, sem o
direito, é sem forma".
Essa afirmação deixa a
entender que Marx e Engels consideravam o direito como fator de grande
importância para a economia, além disso, a frase indicada é de outro autor.
Como eu estava numa fase
muito zen, fiquei quieto, não criei polêmica em sala de aula. Também queria
evitar passar a impressão de "sabe-tudo", do aluno que sabe mais que
a professora.
Fui o único na classe a fazer
esse trabalho.
Minha resposta segue abaixo.
Espero que ajude a colocar um pouco de luz nessa tentativa obscura de ligar o
marxismo ao direito, que muitos, tendenciosamente, tentam fazer:
As frases acima não são de Marx ou Engels, mas de um autor alemão pouco
conhecido, chamado Fritz Berolzheimer, estudioso de filosofia e direito.
Mais que isso, como exposto a seguir, entendo como inadequada a
atribuição dessa relação entre direito e economia ao pensamento marxista.
Marx e Engels questionam a existência de governos e de leis. Para esses
autores, o direito seria, nada mais, nada menos, que um elemento do conceito de
"superestrutura", ou seja, apenas mais um dos fatores que uma classe
social utiliza para dominar outra classe. Nesse sentido, esclarece o Dicionário
do Pensamento Marxista:
Depois de ter elaborado a sua concepção materialista da história, e
mesmo já a partir de 1845, Marx
desenvolveu a tese de que o direito era essencialmente epifenomenal, parte da
superestrutura, um reflexo das concepções, das necessidades
e dos interesses de uma classe dominante, produzida pelo desenvolvimento das
forças produtivas e das relações de produção que constituem a base econômica do
desenvolvimento social. (p. 109b)
Em suma, para Marx, o direito apenas transmite e protege os interesses
daqueles que detêm o poder e a riqueza na sociedade - e não traria, em si, nada
de justo, posto que a justiça seria apenas uma ideologia historicamente
condicionada pelas classes dominantes.
Embora Marx (convenientemente) não tenha detalhado efetivamente como
seriam os modos de produção socialista e comunista, que vislumbrava como
sucessores do capitalismo, ele não via a necessidade futura da existência do
direito, que, para ele, só se justificava como elemento de dominação, de
contenção dos conflitos no bojo da sociedade. Com o comunismo, acreditava, não
existiria mais conflito social, logo o direito não seria necessário (ideia
corretamente classificada como utópica por Hans Kelsen).
Há evidente incoerência em atribuir ao sistema capitalista a culpa pela
injustiça social. Afinal, é facilmente verificável que, em qualquer momento da
história humana, em qualquer modo de produção, podemos verificar a existência
de oprimidos e opressores, de ricos e pobres - trata-se, portanto, de um
problema do capitalismo ou de um problema da humanidade? E não é esse conflito
inerente às sociedades humanas que justifica a existência do direito? Então,
como associar o direito a pensadores que ingenuamente o refutam, que o
consideram algo a ser dispensado numa sociedade utópica, ideal?
Pior que isso, Marx previa a necessidade de acabar com todo o direito e
substituí-lo por uma ditadura (a "ditadura do proletariado"). As
consequências dessa concepção são historicamente verificáveis nos casos da
União Soviética, Cuba, China, Coréia do Norte...
Sendo assim, diante do exposto, não há como se concordar com uma
contribuição marxista à ciência do direito, muito menos por via da economia. No
próprio âmbito da ciência econômica é cada vez menor a influência do pensamento
marxista (talvez influente hoje apenas na sociologia e em certos rincões de
universidades públicas). Também não verifico relevância do pensamento marxista
no movimento que procura realizar uma análise econômica do direito, conhecido
como Law & Economics. Definitivamente, o direito não precisa de Marx e
Engels. Ainda bem.
...
REFERÊNCIAS CONSULTADAS:
DIREITO. In: Dicionário do Pensamento Marxista. 2. ed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
MONTEIRO, David de Oliveira. Direitos humanos e democracia brasileira:
uma crítica. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/21166/direitos-humanos-e-democracia-brasileira-uma-critica/1>.
Acesso em: 04 mar. 2012.
ZIMMERMANN, Augusto. Marxism, law and evolution: Marxist law in both theory and practice.
Disponível em:
<http://creation.com/marxism-law-and-evolution>. Acesso em: 04 mar. 2012.
Qual foi sua nota no trabalho?
ResponderExcluirNa minha faculdade é muito difícil saber notas. Geralmente eu só fico sabendo se passei (sem saber a nota) quando faço matrícula no semestre seguinte.
ExcluirAcredite se quiser...
Pergunto se ha direito com liberalismo , vao chegar a mesma conclusao de que com o marxismo , no entanto de forma invertida .
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