Produção em grandes quantidades - produção em massa
-, está diretamente relacionada à linha de montagem, a qual não seria possível
sem antes conseguir-se a padronização das peças, dos componentes, no trabalho
industrial. Com peças intercambiáveis, eliminando as discrepâncias que geravam
a necessidade de ajustes e da qualificação do trabalho artesanal, a produção em
massa pôde evoluir para uma maior organização e simplificação do trabalho,
passando a focar o tempo necessário à execução das tarefas e o aumento de
produtividade.
O advento da produção em massa não só revolucionou
a produção de bens, mas também permitiu a expansão do mercado consumidor, já
que a economia de escala obtida pelo alto volume de produção permitiu a oferta
de produtos a preços mais acessíveis. As implicações desse modelo atingem todo
o âmago social, influenciando o consumismo e remodelando as relações entre
homem e trabalho. Galbraith observou esse fenômeno:
Há oitenta
anos, a sociedade anônima achava-se ainda confinada às indústrias em que,
parecia, a produção tinha que ser em grande escala – construção de ferrovias,
navegação a vapor, fabricação de aço e refino de petróleo e certos
empreendimentos de mineração. Hoje ela também vende secos e molhados, mói
sementes de cereais, edita jornais e oferece divertimentos públicos, atividades
que eram outrora de esfera do proprietário individual ou da firma pequena. As
firmas maiores aplicam bilhões de dólares em equipamentos e empregam centenas
de milhares de homens em dezenas de locais para produzir centenas de produtos.
No final de 1974, as 200 maiores empresas individuais dos Estados Unidos – 1/10
de 1% de todas as indústrias – tinham dois terços de todo o ativo empregado na
produção industrial, e mais de 3/5 de todas as vendas, empregos e renda
líquida. Tal concentração não só é elevada, como se intensifica rapidamente. No
final de 1974, a participação das 200 maiores em vendas, empregos e ativo era
maior do que a das 500 maiores de 1955! (Galbraith, 1985, p. 13)
Com a produção em massa, a qualificação do "trabalhador
de chão de fábrica" (também já chamado de “colarinho azul”) é pouco
necessária, constituindo este quase que um mero alimentador de processos,
mantendo a maquinaria em funcionamento e contribuindo com funções simples e
repetitivas.
Dado o próprio desenvolvimento econômico e as
características inerentes de competição no sistema capitalista, o aprimoramento
dos métodos de trabalho e otimização de recursos permite melhorias no processo
produtivo e surgimento de novos conceitos, explorando oportunidades que o
sistema padronizado e de escala da produção em massa não assistia. O
desenvolvimento desses aprimoramentos dá origem ao que se chamou de "produção
enxuta".
O produtor em
massa utiliza profissionais excessivamente especializados para projetar produtos
manufaturados por trabalhadores semi ou não-qualificados, utilizando máquinas
dispendiosas e especializadas em uma única tarefa. Essas “cospem” produtos
padronizados em altíssimos volumes. Por ser a maquinaria tão cara e pouco
versátil, o produtor em massa adiciona várias folgas – suprimentos adicionais,
trabalhadores extras e espaço extra – para assegurar a continuidade da
produção. Por ser a mudança para um novo produto tão dispendiosa, o produtor em
massa mantém os modelos padrão em produção o maior tempo possível. O resultado:
o consumidor obtém preços mais baixos, mas à custa de variedade, e com métodos
de trabalho que muitos trabalhadores julgam monótonos e sem sentido.
O produtor
enxuto, em contraposição, combina as vantagens das produções artesanal e em
massa, evitando os altos custos dessa primeira e a rigidez desta última. Com
essa finalidade, emprega a produção enxuta equipes de trabalhadores
multiqualificados em todos os níveis da organização, além de máquinas altamente
flexíveis e cada vez mais automatizadas, para produzir imensos volumes de
produtos de ampla variedade. (Womack, Jones, Roos, 1992, p. 3)
Na década de 1950, no Japão, empresas como a Toyota
começaram a adotar, por força das circunstâncias, mudanças no processo
operacional que caracterizariam o sistema de produção enxuta. Porém, tais
mudanças só tiveram impacto significativo em nível mundial a partir da década
de 1970, graças ao choque de oferta causado pela crise do petróleo - que,
particularmente, deu aos carros japoneses uma maior vantagem competitiva, não
sendo a indústria americana capaz de responder rapidamente com a oferta de
produtos diferenciados, dada sua característica de produção em escala.
A competição é inerente ao sistema capitalista.
Cedo ou tarde ocorre uma inovação de processo, a invenção de um novo produto, a
descoberta de um novo nicho de mercado. Assim, são obtidas vantagens de
pioneirismo, com obtenção de maiores lucros, atraindo novos concorrentes para o
setor. Essas inovações acabam absorvidas e aprimoradas por concorrentes,
podendo ser adaptadas para outros segmentos de mercado.
Além disso não se pode desconsiderar o contexto de contínua
evolução tecnológica e informacional, permitindo a maior difusão, a menor custo,
de inovações operacionais e práticas de gestão.
A difusão tecnológica e informacional, acirra a
concorrência intercapitalista, tornando o sentido da produção enxuta, de
reduzir custos e otimizar recursos (ou seja, “enxugar” a estrutura) como uma
tendência comum para muitos setores de mercado.
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA:
GALBRAITH, John K. O Novo Estado Industrial. 2. ed. São
Paulo: Nova Cultural, 1985.
WOMACK,
James P., JONES, Daniel T., ROOS, Daniel. A Máquina Que Mudou o
Mundo. 11. ed. Rio
de Janeiro: Campus, 1992.