O sucesso do Japão nos mercados internacionais, com
produtos competitivos em preço e qualidade (embora atualmente a competição por
preço seja especialidade da China), trouxe a atenção do Ocidente para o modelo
operacional japonês. Com o incentivo de associações empresariais
norte-americanas, as técnicas gerenciais foram copiadas e adaptadas.
A ascensão japonesa na década de 1970 e sua
consolidação nos anos 1980, não teve prosseguimento a partir dos anos 1990.
Prejudicada pela apreciação do yen, pela crise financeira, pela estagnação
econômica e pelo real ganho de competitividade das empresas do Ocidente, a
estrutura industrial japonesa perdeu muito de sua atração no que se refere à
busca de aperfeiçoamento gerencial.
A bolha
estourou no início de 1990, com o mercado de ações perdendo a metade do seu
valor em apenas alguns meses. Se os bancos e as companhias de seguros tivessem
sido forçados a reduzir a valores realistas as suas ações e hipotecas, teria
havido um colapso financeiro em massa. Em vez de organizar uma retirada
administrada e controlada – semelhante àquela que os americanos fizeram com os
empréstimos a países latino-americanos e as hipotecas -, o Japão está fingindo
que os prejuízos nunca ocorreram. Na primavera de 1993, as compras maciças de
ações e bônus pelo governo responderam por um terço do total de compras na Bolsa de Valores de Tóquio. A
linha oficial é que os mercados "devem" subir tão logo a economia se
recupere, permitindo que o governo venda seus papéis e até tenha lucro. Mas
isso nunca funcionou. A própria existência desses papéis em poder do governo
limita o mercado. E cada dia que se passa sem que a realidade financeira seja
encarada torna o problema menos tratável, mais controverso e politicamente
corrosivo. (Drucker,
1999, p. 166)
Pode-se dizer que o desenvolvimento das técnicas
gerenciais conhecidas como Gestão da Qualidade Total é fruto do processo de
difusão de inovações das vantagens competitivas levadas a cabo pela economia
japonesa em seu processo de recuperação, depois da II Guerra Mundial, e orientação
para exportação.
De seu lado, o Ocidente teve sucesso na adaptação e
desenvolvimento dessa técnicas, embora não sem registrar fracassos. E esse
processo é fomentado ainda pelo fato de o desenvolvimento da tecnologia da
informação e dos novos meios de comunicação e negócio (Internet,
telecomunicações, software, biotecnologia) estar centrado no Ocidente. A década
de 1990 marca, assim, uma resposta do Ocidente ao desafio japonês.
O nervosismo
japonês com relação à inovação e internacionalização parece refletir um
fracasso, não apenas de líderes empresariais específicos, mas também da
abordagem japonesa à liderança como um todo. O culto ao consenso funcionava bem
quando a economia japonesa estava crescendo 10% ao ano. Mas a economia
estagnada está testando a capacidade dos chefes de tomar decisões difíceis.
Eles precisam se livrar do excesso de funcionários (ou pelo menos aposentá-los
precocemente) e resolver em que linha de negócios devem se concentrar. A
concorrência de empresas ocidentais com rígida administração significa que as
empresas japonesas precisam ser capazes de tomar decisões com rapidez. Agora
que o Japão está se envolvendo cada vez mais com o resto do mundo, através de joint-ventures e operações no estrangeiro, os gerentes
japoneses não podem mais se basear em um processo decisório que só é
compreensível para seus colegas japoneses. (Micklethwait, Wooldridge, 1998,
p. 217)
Não se deve desconsiderar os aspectos singulares da
economia japonesa e sua política empresarial, não tão voltada para a
maximização do lucro e consumo como ocorre nos EUA.
Se for feita
a mesma pergunta a empresas japonesas [sobre prioridades em termos de atender seus vários
públicos], a ordem de atendimento é
inversa [à das empresas americanas] –
empregados em primeiro lugar, clientes em segundo, e acionistas em terceiro.
“As metas da companhia serão crescimento e longevidade, a lucratividade
aparecendo num distante terceiro lugar na lista de prioridades. Os acionistas
independentes não ocupam uma boa posição na lista de prioridades de atendimento
da companhia [...] Os gerentes japoneses representam os interesses de toda a
coalizão de acionistas e de não acionistas ou grupos isolados.” (Thurow,
1993, p. 160)
Esse quadro deve ser observado como um pacto social
japonês, onde há defesa de um mercado fechado mesmo quando os produtos do
exterior são mais baratos, onde é menor a propensão ao consumo (quando em
comparação com as economias de outros países industrializados) e do fato das
empresas japonesas registrarem lucros inferiores aos seus concorrentes estrangeiros.
A propensão
do Japão a importar bens manufaturados de outros países desenvolvidos é um
quarto da propensão dos Estados Unidos e um doze avos em relação à Alemanha.
Dependendo do estudo, as importações japonesas situam-se de 25% a 45% abaixo do
que seria de esperar considerando-se as circunstâncias do Japão. As diferenças
de preços que não deveriam existir num mercado global existem. Os preços de
produtos comerciáveis são 86% mais altos no Japão do que os preços desses
mesmos produtos nos Estados Unidos. Teoricamente, pode-se ganhar muito dinheiro
comprando-se produtos nos Estados Unidos e vendendo-os no Japão. Entretanto, no
Japão, ninguém se aproveita dessas oportunidades de grandes lucros. Os estrangeiros
que tentam fracassam. (Thurow, 1993, p. 136)
(...)
Grande parte
do sucesso japonês face à crescente valorização do iene deve ser atribuída à
sua disposição de aceitar menores lucros. Embora certamente tenham trabalhado
para se tornar mais eficientes, companhias como a Matsushita e a Hitachi não
hesitam em cortar os seus lucros pela metade, a fim de permanecerem
competitivas. Os lucros da Matsushita em termos de percentuais de vendas caíram
mais de 12% no início da década de setenta para 7 a 8% no final dos anos
oitenta. Os lucros da Hitachi caíram da faixa de 11 a 12% para a faixa de 6 a
7%.
(Thurow, 1993, p. 152)
(...)
Numa relação
das 50 maiores companhias do mundo em função de seus lucros, 18 são americanas,
apenas três são japonesas, quatro são alemãs e 11 são inglesas. Se analisarmos
a taxa de retorno de equidade dos acionistas, as empresas americanas entre as
50 maiores recebem 13,3%, ou 50% mais do que os 9,1% recebidos pelas empresas
japonesas entre as 50 maiores. Objetivamente, as empresas americanas são mais
orientadas para o lucro do que as japonesas.
Da mesma
forma, se relacionarmos os bancos mundiais pelo volume de seus ativos, nove dos
dez maiores bancos do mundo são japoneses; nenhum é americano. Entretanto, se
os bancos forem classificados segundo o retorno de equidade, seis dos dez mais
lucrativos bancos do mundo são americanos; nenhum é japonês. (Thurow, 1993, p. 168)
Apesar disso, não se pode desconsiderar a
capacidade histórica do Japão em superar dificuldades, nem seu alto grau de
desenvolvimento econômico. No entanto, cabe indagar sobre a influência dessas
características econômico-sociais do Japão no fato do país se encontrar em
longo período de estagnação econômica e ainda sem perspectiva de reversão da
situação.
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA:
DRUCKER, Peter. Administrando
em Tempos de Grandes Mudanças. São Paulo: Pioneiras, 1999.
MICKLETHWALT, John, WOOLDRIDGE, Adrian. Os Bruxos da Administração. 3. ed. Rio
de Janeiro: Campus, 1998.
THUROW, Lester C. Cabeça a Cabeça: a batalha econômica entre Japão, Europa e Estados
Unidos. 2. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
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