Antes da Revolução Industrial, nos
sistemas de trabalho de base artesanal, o processo produtivo era determinado
pela habilidade do trabalhador, devidamente preparado e qualificado para o
manejo de suas ferramentas de trabalho. Desse sistema decorriam sérias
limitações de produtividade, de padronização e custos, tornando os ofícios de
manufatura extremamente dependentes do fator humano.
Com o advento da maquinização do
processo produtivo, via difusão tecnológica da máquina a vapor, a dependência
de trabalhadores qualificados torna-se rapidamente menor. Agora o trabalhador
torna-se operário, aquele que responde e alimenta o processo de produção
mecanizado, realizando tarefas simples, determinadas e mensuráveis. A
qualificação para formação dos antigos artesãos não é mais necessária, a
produtividade é maior, os produtos são padronizados e os custos diminuem consideravelmente.
O ápice desse modelo é expresso nos ganhos de economia de escala e na divisão
do trabalho no processo produtivo do taylorismo e fordismo.
Menos de uma década depois que Taylor examinou o trabalho e analisou-o,
a produtividade do trabalhador manual iniciou sua ascensão sem precedentes.
Desde então, ela tem subido regularmente à taxa de 3,5% ao ano, o que significa
que aumentou 50 vezes desde Taylor. Nesta realização, baseiam-se todos os ganhos econômicos e sociais do
século XX. A produtividade do trabalhador manual criou aquelas que hoje
chamamos de economias "desenvolvidas". Antes de Taylor, isso não
havia – todas as economias eram igualmente "subdesenvolvidas". Hoje,
uma economia subdesenvolvida, ou mesmo "emergente", é aquela que
ainda não tornou produtivo o trabalhador manual. (Drucker, Desafios Gerenciais Para o Século XXI, p. 112)
Progressivamente, porém, o
incremento da estrutura física na composição orgânica do capital, com o advento
e evolução das práticas gerenciais e o desenvolvimento da tecnologia da
informação, torna novamente necessário o investimento na formação e
qualificação do trabalhador.
Também podemos prever com confiança que iremos redefinir o que significa
ser uma pessoa educada. Tradicionalmente, e em especial durante os últimos 300
anos, pessoa educada era alguém que tivesse um fundo prescrito de conhecimento
formal. Os alemães chamavam este conhecimento de allgemeine Bildung, e os ingleses e americanos de artes
liberais. Daqui em diante, uma pessoa educada será, cada vez mais, alguém que
aprendeu como aprender e continua aprendendo, especialmente por meio de
educação formal, por toda a sua vida. (Drucker, Administrando em Tempos de Grandes Mudanças, p. 200-201)
Esse movimento se dá, de um lado, no
chão de fábrica, pela introdução de maquinaria cada vez mais complexa e
proficiente, a qual necessita de um técnico ao invés de um operador (com
grandes vantagens de aumento de produtividade e eliminação de postos de
trabalho no setor fabril) e, de outro lado, pela necessidade de atualização,
qualificação e adaptação constante atribuída aos postos de trabalho gerenciais.
A produção manufatureira americana permaneceu quase imutável em termos
de porcentagem do produto nacional bruto nos anos do ‘declínio gerencial’.
Ficou em 22 por cento do PNB em 1975 e em 23 por cento em 1990. Durante esses
vinte anos, o produto nacional bruto cresceu duas vezes e meia. Em outras
palavras, a produção manufatureira total dos Estados Unidos cresceu mais de
duas vezes e meia nesses vinte anos.
Mas o número de empregados em manufatura não cresceu. Ao contrário, de
1960 a 1990 ele caiu como porcentagem da força de trabalho e também em números
absolutos. Nesses trinta anos, ele caiu de 25 por cento da força de trabalho
para 16 a 17 por cento. Nesse período, a força de trabalho total americana
dobrou – o maior aumento já registrado por qualquer país em tempo de paz.
Porém, todo esse aumento foi em empregos que não envolviam fazer e movimentar
coisas. (Drucker, Sociedade Pós-Capitalista, p. 44)
Desta forma, o capitalismo entra
numa fase onde a formação do trabalhador, sua educação e propensão a aprender,
se confunde com sua capacidade operacional. Daí porque muitos autores falam em
“economia pós-industrial”, “sociedade pós-capitalista”, da necessidade de
reconfiguração do conceito de trabalho, de “trabalhador do conhecimento”, num
contexto de mudanças e quebra de paradigmas.
Aquela profunda percepção de Towne, feita há quase um século atrás – que
o conhecimento é o recurso produtor de riquezas – começou a dar frutos nesses
últimos trinta anos. Em toda parte, o indivíduo com treinamento profissional
vai se tornando a verdadeira “força de trabalho” – em termos de custo e de
quantidade, e evidentemente em termos de contribuição. O “trabalhador” de
outrora, com o qual Owen foi o primeiro a se preocupar e cujo trabalho foi
analisado por Taylor, está rapidamente se tornando uma coisa do passado na
indústria moderna. O trabalho é cada vez mais realizado por pessoas com
educação superior, que contribuem com seus conhecimentos e que trabalham com
suas mentes. (Drucker,
Fator Humano e Desempenho, p. 29-30)
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
DRUCKER, Peter. Administrando em Tempos
de Grandes Mudanças. São Paulo: Pioneira, 1999.
DRUCKER, Peter. Desafios Gerenciais
Para o Século XXI. São Paulo: Pioneira, 1999.
DRUCKER, Peter. Fator Humano e
Desempenho. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1997.
DRUCKER, Peter. Sociedade
Pós-Capitalista. 7. ed. São Paulo: Pioneira, 1997.