Com o rápido desenvolvimento
capitalista no século XX, a necessidade de interferência humana direta no
processo produtivo tornou-se menor. Além das implicações com redução de custos,
esse movimento vem liberando o fator humano da planta física industrial, apesar
do volume cada vez maior de produção.
Em 1900, a grande maioria das pessoas nos países desenvolvidos ainda
trabalhava no mínimo 60 horas por semana, 51 semanas por ano – com cerca de 8
feriados anuais – e 6 dias por semana. No final do século, a maioria trabalha
menos de 40 horas semanais – 34 ou 35 na Alemanha – e (nos Estados Unidos) 47
semanas por ano (isto é, com cerca de 12 feriados anuais) e 5 dias por semana –
uma queda de mais de 3.000 horas por ano para menos de 1.500 horas na Alemanha
e 1.850 horas no país desenvolvido em que mais se trabalha: os Estados Unidos. (Drucker, Administrando em Tempos de
Grandes Mudanças ,1999, p. 49)
Nesse sentido, verifica-se ainda o
crescimento da importância econômica do setor de serviços, indicando um
reposicionamento do contexto das relações de trabalho:
[...Governo,] serviços de saúde, educação e lazer - são grandes usuários de produtos e
serviços [...]. Nenhum deles provê satisfações materiais, isto é, “econômica”.
E os quatro não estão no “Livre Mercado”, não se comportam de acordo com as
regras dos economistas de suprimento e de demanda, nem são particularmente
“sensíveis a preço”; de modo geral, não se encaixam no modelo do economista nem
se comportam de acordo com suas teorias. Todavia, representam mais da metade de
uma economia desenvolvida, até mesmo a mais “capitalista”. (Drucker, Desafios Gerenciais para
o século XXI, p. 50)
Domenico de Masi também
observou a respeito:
Alguns pensadores enfatizam sobretudo a passagem de uma economia de
produção a uma economia de serviços. São sociólogos, economistas e
especialistas em informática. Porém nenhum deles chega a afirmar que esta seja
a única característica da metamorfose. Consideram-na, entretanto, um aspecto
importante. Daniel Bell, em seu livro The Coming of Postindustrial Society (O Advento da Sociedade Pós-Industrial), se pergunta qual seria a
possível data de nascimento da sociedade pós-industrial e escolhe 1956. Nesse
ano, pela primeira vez num país do mundo – os Estados Unidos -, o número de
trabalhadores do setor terciário, isto é, o setor que oferece serviços, superou
a soma do número de trabalhadores do setor industrial e agrícola. (De Masi,
2000, p. 78)
Com a inovação tecnológica permitindo
alto volume de produção com qualidade e diferenciação, além de maior acesso a
informações para atuação gerencial, várias atividades profissionais entram em
processo de reformulação e extinção, enquanto novas funções são criadas. A
indisponibilidade de trabalhadores preparados e qualificados torna-se, assim,
um empecilho ao mais rápido desenvolvimento do sistema. Nesse contexto, o
próprio conceito de qualificação precisa ser revisto, diante da necessidade de
constante atualização de conhecimentos.
O psicólogo Herbert Gerjuoy, da Organização de Pesquisa de
Recursos Humanos, coloca a coisa de forma muito simples: "A nossa educação
deve ensinar ao indivíduo como classificar e reclassificar a informação, como
avaliar sua veracidade, como transformar categorias quando necessário, como
passar do concreto para o abstrato e vice-versa, como encarar os problemas a
partir de uma direção nova – como ensinar a si mesmo. O analfabeto de amanhã
não será o homem que não saberá ler; será o homem que não terá aprendido a
aprender". (Toffler, 1998, p. 333)
O trabalho então passa pela gestão
do conhecimento, pela capacidade de propiciar as condições de qualificação e
aprimoramento que tornem o fator humano capacitado a lidar com a base
tecnológica e seu desenvolvimento. Os indivíduos se vêem, assim, diante da
necessidade de se adequarem às exigências de uma sociedade em transformação.
As máquinas continuarão a evoluir e nós deveremos nos atualizar
ininterruptamente, seja para usá-las no trabalho, seja no estudo ou no lazer.
Quando foi produzido o software Windows 98, precisamos aprender a usá-lo.
Apenas dois anos antes tínhamos aprendido a usar o Windows 95, logo depois foi
a vez de programas mais avançados e assim indefinidamente.
Quando a primeira máquina de escrever foi colocada no mercado, tinha
diante de si meio século de vida antes de se tornar obsoleta. Hoje, um hardware
ou um software são ultrapassados em poucos meses, obrigando todo mundo a se
reciclar.” (De
Masi, 2000, p. 273)
Nesse contexto, portanto, a disponibilidade
de recursos humanos qualificados e com capacidade de adaptação torna-se um
fator chave para as organizações.
A mais importante e, na verdade, a única contribuição da Administração
no século XX foi o aumento, em 50 vezes, da produtividade do trabalhador manual em fabricação.
A mais importante contribuição que a Administração precisa fazer no
século XXI é, analogamente, elevar a produtividade do trabalho do conhecimento e do trabalhador
do conhecimento.
Os ativos mais valiosos de uma empresa do século XX eram seus equipamentos de produção. Os mais
valiosos ativos de uma instituição do século XXI, seja empresa ou não, serão
seus trabalhadores do conhecimento e
sua produtividade. (Drucker, Desafios
Gerenciais Para o Século XXI, p. 111)
[...]
Mas na maior parte do trabalho do conhecimento, a qualidade não é um
mínimo, nem uma restrição, ela é a essência da produção. Ao julgar o desempenho
de um professor, não questionamos quantos alunos pode haver em sua classe, mas
quantos deles aprendem algo – e esta é uma pergunta de qualidade. Ao avaliar o
desempenho de um laboratório médico, a pergunta de quantos exames ele pode
realizar através de suas máquinas é secundária em relação à pergunta de quantos
resultados de exames são válidos e confiáveis. E isto vale até para o trabalho
do arquivista.
(Drucker, Desafios Gerenciais Para o Século XXI, p. 117)
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
DE MASI, Domenico. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro:
Sextante, 2000.
DRUCKER, Peter. Sociedade Pós-Capitalista. 7. ed. São Paulo: Pioneira, 1997.
DRUCKER, Peter. Administrando em Tempos de Grandes Mudanças. São Paulo: Pioneiras,
1999.
DRUCKER, Peter. Desafios Gerenciais Para o Século XXI. São Paulo: Pioneira, 1999.
TOFFLER, Alvin. O Choque do Futuro. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998.