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29 de abr. de 2013

Aprender a Aprender


O psicólogo americano Abraham Maslow definiu, certa vez, que os desejos humanos são hierarquizados. À medida que são satisfeitos, perdem sua importância na concentração de esforços do indivíduo, que passa a desviar sua atenção para novas necessidades, novos desejos.
Assim, é estabelecida uma constante busca por novas realizações, pela satisfação de novos desejos, o que também implica em frustrações e, em decorrência, um processo constante de aprendizado e adaptação do homem ao meio.
A capacidade de aprendizado, a inquietação em buscar novas realizações, diferencia o ser humano das demais espécies animais. Esse processo é responsável pela evolução do cérebro, pelo desenvolvimento da inteligência, pela capacidade do homem em transformar a natureza física do mundo, e até mesmo promover sua destruição.
O processo de aprendizado, de interação com o meio e com outros indivíduos, também implica em lidar com o desconhecido sem necessariamente encontrar as respostas. O filme Baraka (palavra sufi que significa "o homem em interação com o Universo"), apresentando imagens de diferentes culturas e regiões do planeta, nos dá uma noção para compreensão desse processo. De um lado, a ânsia humana em obter todas as respostas, e a impossibilidade imediata de tal realização, promove o surgimento das mais distintas práticas religiosas. De fato, não é um equívoco considerar que as religiões surgem da adaptação humana à impossibilidade em responder as perguntas fundamentais sobre a origem e o significado da existência. Trata-se, no nível individual, de um conforto ao desconforto, ao sentimento de atomicidade, de vazio existencial, de um contraponto à frustração. Por outro lado, em nível social, a religião permite a identificação de grupo, a junção de esforços individuais para novas realizações.
Assim, o trabalho humano, no conjunto social, também tem seu papel de fator de estabilização, promovendo a harmonia ao focar as ações individuais e a identificação de grupo. E permite a verificação de sinergias, pela realização de tarefas as quais um único indivíduo jamais poderia efetuar.
Porém, a religião, com suas regras e limitações calcadas num gnosticismo ao qual apenas a crença pode corroborar, também pode causar desarmonia social quando passamos para níveis mais amplos de análise – do qual é um bom exemplo as relações entre judeus, muçulmanos e cristãos ao longo da história. Além disso, a limitação do indivíduo ao pensamento do grupo, às regras religiosas, pode constituir limite ao desenvolvimento pessoal e mesmo social, fazendo com que o ser humano perca a oportunidade de gerir seu maior diferencial, que é a capacidade de pensar, de aprender, de inventar, de transformar. Exemplo claro dessa limitação imposta é o papel que o islamismo tem relegado às mulheres.
Também o trabalho pode ser um fator de limitação à conduta humana. Se, por um lado, a aglutinação de indivíduos em tarefas coordenadas, numa mesma organização, permite a realização de sinergia, a concentração de esforços na criação de produtos e serviços que vão além do que apenas um indivíduo seria capaz de realizar, a necessidade de manutenção da ordem, de coordenação, de se adaptar às funções e se relacionar com pessoas dentro de um mesmo contexto, também podem ocasionar desperdício de talento humano, de maior oportunidade para interação da inteligência com o meio, de desenvolvimento do aprendizado. Isso porque, por mais que a sociedade tenha conseguido tornar os meios de subsistência mais acessíveis, não há como prover a todos os indivíduos os mesmos níveis de oportunidades e escolhas. O peso do acaso, da oportunidade, é relevante na efetivação do desenvolvimento pessoal em sociedade.
Na dinâmica da economia capitalista, tendo por base o nível de desenvolvimento tecnológico alcançado e suas implicações sobre o contexto social, pela primeira vez vislumbra-se a possibilidade do homem desenvolver sua capacidade de aprendizado sem prejudicar a realização das necessidades econômicas (por exemplo, a Grécia Antiga atingiu um alto desenvolvimento do livre-pensar, da filosofia, mas em detrimento da evolução tecnológica, já que as tarefas comuns ficavam a cargo de escravos). Os limites capitalistas ao uso da mão de obra estão sendo atingidos em vários setores, pela inserção de máquinas e pela necessidade de agregação de serviços aos produtos. O ser humano e seu diferencial, sua capacidade de pensar, de aprender, sua inteligência, passam a ter cada vez mais um papel fundamental no desenvolvimento do sistema.
Naturalmente, pode-se argumentar que tal não significa uma maior liberdade humana, mas antes uma maior opressão, sua maior vinculação e aprisionamento ao sistema, ao domínio econômico. De fato, não se trata esta de uma crítica a ser desconsiderada. Em todo caso, em nada isso diferencia o capitalismo e as relações humanas ao longo da história, como muitas vezes já se tentou fazer. Cabe enfatizar o diferencial que agora se estabelece, da habilidade humana, do conhecimento, como aspecto central do sistema econômico, e suas consequências no desenvolvimento do pensamento humano.
O ponto a se enfatizar é que a concorrência intercapitalista e o desenvolvimento tecnológico se mesclam com o conhecimento, com o aprendizado. Isso acarreta não só a necessidade de uma maior e mais prolongada formação do indivíduo, mas a necessidade de constante reciclagem, de atualização.
A demanda econômica por trabalhadores mais qualificados, tem também gerado uma nova percepção, a da interação do ser humano quando em grupo, a criação de sinergias que vão além da divisão do trabalho, mas da troca de experiências, de ideias. Por trás da evolução tecnológica, há uma evolução gerencial. Isso significa que o maior tempo dedicado ao trabalho, a jornada de trabalho, por si só não se traduz em maior eficiência. O tempo fora do trabalho, desde que bem aplicado, também pode tornar o trabalho mais produtivo. E aplicar bem o tempo fora do trabalho significa usá-lo para desenvolvimento do diferencial humano, para o exercício do conhecimento, do aprendizado. Não se trata simplesmente de viver em função da busca de oportunidades que possam ser aplicadas ao trabalho, mas de procurar estabelecer uma harmonia que tenha como fundamento o evoluir do pensamento, o exercício da capacidade de pensar.
Assim, se profissionalmente podemos estar fadados à especialização, e todos os riscos daí decorrentes, com uma postura individual mais generalista esse risco é amenizado ou pode mesmo inexistir, gerando um contraponto que não só permita ao indivíduo a adaptação a diferentes tarefas e profissões, um maior grau de escolha e independência, como também um melhor esclarecimento às suas decisões de vida. 

7 de abr. de 2013

Balanced Scorecard: Pra Quê?


Ao organizar pastas em meu computador, encontrei 12 artigos sobre Balanced Scorecard que eu havia selecionado na base EBSCO.
O famoso Balanced Scorecard, ou BSC.
E agora? Esses artigos mereceriam ser lidos?
Pensei a respeito...
O BSC é um quadro com medidas financeiras e não financeiras, com a pretensão de expor os parâmetros essenciais da estratégia de uma organização.
Bom, medidas financeiras são há muito difundidas e permitem a equiparação entre distintas empresas e setores. Já as medidas não financeiras são específicas de cada organização, de modo que o BSC não se mostra viável para comparação de desempenho entre empresas distintas.
Porém, assim como no caso das medidas financeiras, o BSC não inventou as medidas não financeiras. De fato, cada organização tem seus próprios mapas e índices de controle, avaliando questões que considera relevantes em seu processo (produção, qualidade, atendimento, clima organizacional, etc.).
Sendo assim, qual a novidade do BSC?
Colocar tudo num quadro pra dizer que faz controle? Pretender que esse quadro resuma a estratégia empresarial?
Sem falar que é muito complicado definir medidas financeiras, relativas a clientes, a processos internos e "aprendizado e crescimento" que sejam interligadas, como pretende o BSC. E isso já me traz dúvidas sobre a relevância estratégica dessa ferramenta.
Parece-me mesmo que a ênfase do BSC acaba por poluir a informação para quem precisa acompanhar dados específicos. Decerto, um BSC não suplanta relatórios não financeiros previamente existentes. Além disso, nem todas as informações estratégicas relevantes seriam divulgadas no BSC. Algumas informações podem mesmo serem restritas até ao público interno, tornando a utilização desse suposto quadro estratégico muito limitada.
De qualquer forma, essa filosofia de visão estratégica integrada que o BSC pretende estabelecer me parece apenas lugar-comum. Essa integração já não é atribuição da atuação dos administradores? Não é apenas uma questão de bom senso? Precisaria mesmo do BSC para tal? Mesmo sem o BSC dá pra fazer controles e integração de informações.
Ao que parece o BSC apenas tornou mais fácil abordar essa questão da necessidade de integração estratégica, de visão da empresa como um todo, principalmente para a academia. No limite, o BSC é apenas uma nomenclatura.
O BSC me faz lembrar daquela piada sobre consultoria: que o consultor é o cara que o empresário paga para lhe dizer o que ele já sabe.
Assim, suspeito que o BSC faz parte da velha prática que se verifica em administração, qual seja a ênfase em modismos, apresentação de velhas ideias em novos formatos para ganhar dinheiro.
Resolvi, então, deletar os 12 artigos.