O uso adequado de ferramentas de
controle gerencial favorece uma gestão organizacional mais profissionalizada e
minimiza os riscos do negócio (Gonzaga et
al., 2010), possibilitando às empresas sobreviverem em ambientes
competitivos e alcançarem melhores resultados (Guerreiro e Frezatti, 2004).
Apesar de existir uma forte
tendência para a "homogeneização global" das práticas contábeis, seja
por influência do movimento de globalização econômica, da profissionalização da
contabilidade e da atuação de empresas de consultoria (Granlund et al., 1998 apud Ma e Tayles, 2009), a pesquisa contábil não tem apresentado
impacto significativo na prática empresarial (Guerreiro e Frezatti, 2004). Ferramentas
tradicionais de contabilidade gerencial ainda são largamente utilizadas (Burns et al., 1999; Garg et al., 2003).
Embora exista concordância quanto às
limitações das ferramentas contábeis tradicionais, as organizações se mostram
relutantes em adotar novas técnicas, relatando dificuldades como: particularidades
de sua realidade econômica, falta de
recursos internos, problemas inerentes a mudanças e falta de interesse da
gerência (Garg et al., 2003). Não
obstante, pesquisas indicam que as empresas fazem uso de mais de uma ferramenta
gerencial para atender suas necessidades de controle, mas algumas ferramentas
são pouco utilizadas, como custeio baseado em atividades, custeio meta, teoria
das restrições e valor econômico adicionado (Gonzaga et al., 2010).
A escolha de ferramentas de
contabilidade gerencial é determinada pelas necessidades gerenciais internas da
organização e pela influência de aspectos organizacionais, comportamentais,
econômicos e sociais (Gong e Tset, 2009). Aspectos contextuais, como ambiente,
estratégia, tecnologia, estrutura organizacional, tamanho e cultura,
influenciam no desempenho das organizações (Chenhall, 2007, apud Gong e Tset, 2009).
A esse respeito, a Teoria da
Contingência indica que não existe um sistema de controle gerencial que seja
igualmente útil a diferentes empresas, cabendo então indicar quais os fatores
que podem influenciar na adoção das ferramentas selecionadas (Gonzaga et al., 2010; Donaldson, 2001, apud Gong e Tset, 2009). Porém, existem
críticas sobre a falta da explicação da Teoria da Contingência quanto aos
motivos da sub-utilização de práticas de contabilidade gerencial nas
organizações (Gong e Tset, 2009), bem como diante das dificuldades de sua aplicação
no ambiente de contínua mudança e interações onde atuam as organizações (Selto et al., 1995, apud Covaleski et al.,
1996).
Guerreiro e Frezatti (2004) observam
que novos modelos de contabilidade gerencial, para se tornarem práticas
efetivamente adotadas pelas organizações, precisam ser institucionalizados, ou
seja, convertidos em hábitos e rotinas dentro das organizações. E O'Neill et al. (1998, apud Ma e Tayles, 2009) registra que empresas em ambiente de
incerteza tendem a copiar modelos de operação de outras empresas,
particularmente das que têm sucesso e reconhecimento (boa reputação).
Diante disso, a Teoria
Neo-Institucional identifica que as organizações escolhem determinadas práticas
em um contexto de legitimação, não necessariamente por razões econômicas
(Oyadomari et al., 2008). Busca-se
uma ligação entre o contexto onde a organização se insere e suas práticas,
procurando identificar como as organizações respondem e processam mudanças
institucionais, como elas interagem enquanto integrantes de uma população ou
setor econômico (Ma e Tayles, 2009; Dougherty, 1994, DiMaggio et al., 1983, Meyer et al., 1997, apud Ma e
Tayles., 2009). Tal contexto auxilia a compreensão dos motivos que levam à
manutenção de determinadas práticas de contabilidade gerencial, mesmo quando
não são as mais apropriadas para uma organização (Gong e Tset, 2009). Nesse
sentido, a adoção das técnicas de contabilidade gerencial é influenciada pelas
relações sociais no ambiente onde as organizações se inserem (Covaleski et al., 1996).
Vargas (2002 apud Villaschi e Barros, 2004) verificou que a proximidade e a
interação entre diferentes firmas e outros atores institucionais é importante
para potencializar a inovação e a difusão de conhecimentos. Isso não significa,
todavia, que a influência de fatores externos implique necessariamente na
adoção de práticas de contabilidade gerencial similares entre as empresas de
determinada localização, pois interesses e valores internos de cada organização
também são relevantes (Ma e Tayles, 2009). Guerreiro e Frezatti (2004) indicam,
ainda, que podem existir conflitos e resistências dentro da própria organização,
sobre a adoção de novos sistemas contábeis, bem como a contabilidade pode
simplesmente não ser a forma predominante de controle organizacional.
Observa-se, portanto, muitos fatores
e explicações possíveis quanto ao baixo grau de aplicação de novas técnicas de
contabilidade gerencial na prática organizacional. Por exemplo, Guerreiro e
Frezatti (2004), citam fatores inconscientes na psicologia humana e na cultura
organizacional.
De qualquer modo, antes de
constituir um estorvo, a existência de diferentes perspectivas teóricas pode
ajudar a criar explicações mais completas e válidas sobre o uso da
contabilidade gerencial nas organizações (Ma e Tayles, 2009; Gong e Tset, 2009).
Teorias diferentes não devem ser vistas como necessariamente conflitantes, mas
sim como complementares, para compreensão da realidade (Covaleski et. al 1996;
Morgan, 1980, apud Gong e Tset,
2009). Diferentes teorias podem ser aplicadas conjuntamente para investigar
questões de pesquisa, desde que não sejam consideras como parte de uma única e
nova teoria, pois isso implicaria em alterar seus pressupostos, com perda de
sua singularidade (Gong e Tset, 2009; Donaldson 1995 apud Gong e Tset, 2009).
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