Seguem alguns apontamentos que registrei na palestra
do economista Paulo Guedes, no Fórum Liberdade e Democracia ("Brasil, país
do futuro, até quando?"), realizada em Vitória-ES, no dia 14/10/2013.
Com o colapso do socialismo, e desde então, cerca de
3,5 bilhões de pessoas entraram no mercado de trabalho, tornando a geração de
empregos a grande questão mundial. Verifica-se muita gente disposta a trabalhar
com poucos direitos (baixos salários, jornada extensa etc.), sob regimes
totalitários (como é o caso da China). Tal situação criou um desafio de
competitividade brutal e colocou em crise o Ocidente.
E não se trata apenas da disponibilidade de mão de
obra para tarefas simples, pois 35% dos estudantes nas universidades americanas
são asiáticos. Esses indivíduos representam uma grande quantidade de pessoas
que trabalham muito, estudam muito e, se vivem num regime totalitário, não
podem reclamar ou reivindicar.
Não obstante, a distribuição de renda no mundo vem
melhorando. Afinal, antes, nos regimes socialistas, a situação de miséria
dessas pessoas era muito pior.
O grande problema é que o Ocidente ainda não está se
adaptando a essa realidade. É por isso que temos a percepção que o mundo
piorou.
Nesse contexto, verifica-se que o sistema financeiro
americano quebrou e vem sendo feito um ajuste, nos últimos anos, para
"religar o sistema", com a redução da exposição (alavancagem) das
instituição financeiras. Porém, o custo desse ajuste tem sido muito alto, com a
impressão de mais de US$ 1 trilhão por ano, por determinação do Banco Central
americano.
Mais que isso, tal movimento de aumento de liquidez e
redução de juros tem fomentado novas bolhas especulativas, que se mostram cada
vez maiores. Espera-se, agora, a bolha dos títulos de obrigações (bond bubble). Com as taxas de juros
americanas artificialmente baixas, os investidores foram levados a buscar
títulos de maior rendimento em diversos países e a propensão a aplicações de
risco aumentou.
Paulo Guedes acredita num cenário de queda nas bolsas
e aumento na cotação do dólar. A perda decorrente dessa bolha será dividida
entre os mercados, não mais se concentrando nos Estados Unidos (é como se os
EUA estivessem empurrando seu problema para fora).
Se, de um lado, tem-se um problema de excesso de
financismo nos Estados Unidos, de outro, verifica-se a crise do Estado do
Bem-Estar Social na Europa.
Guedes ressalta o absurdo do modelo europeu, de
concentração de renda nas mãos do Estado, o que acaba beneficiando o interesse
de políticos em detrimento de quem realmente gera renda na sociedade. Os
europeus transformaram o Estado numa máquina de extração de recursos e criação
de gastos. Pela concessão de excesso de direitos, desestimularam a geração de
empregos e comprometeram a capacidade econômica das novas gerações, que não
conseguem mais trabalho. É como se os governos tivessem se tornado uma arma
contra a população, ao invés de servi-la. Diante disso, já existem sérias
dúvidas se a social democracia, que constitui o modelo europeu, é viável num
mundo globalizado.
No entanto, isso não significa o fim do euro. Observa-se
que a moeda continua forte, justamente por ter caráter internacional, estando
fora do alcance da classe política.
Diante desse cenário, a situação do Brasil não se
mostra favorável. Aqui predomina justamente a ideologia social-democrata, por
isso não existe uma dinâmica de crescimento econômico.
Cabe observar que o Brasil já teve um momento
interessante, como "país do futuro". Foi o país que mais cresceu nos
primeiros 75 anos do século passado, não por acaso quando a carga tributária e
a estrutura estatal tinham um peso menor.
A partir do período de ditadura militar, porém, houve
uma escalada de impostos, com maior estatização da economia e centralização de
arrecadação para o Governo Federal. E essa maior intervenção estatal colocou o
Brasil numa armadilha, que impede a realização de seu potencial de crescimento
econômico.
Atualmente verificamos o aumento de regulamentações e
direitos, que vem sendo responsável pelo processo de desindustrialização. E,
pior, o Brasil caminha para o mesmo problema europeu, porém sem antes ter se
tornado um país rico. Os próximos 15 anos serão decisivos a esse respeito. Ou o
país aproveita o bônus demográfico desse período, ou vai quebrar em decorrência
do excesso de intervenção estatal.
Observando a América do Sul, verifica-se que Chile,
Peru e Colômbia estão se integrando ao mercado global, pois fizeram reformas e
vêm registrando crescimento contínuo. Por outro lado, os países peronistas e
bolivarianos (como Venezuela, Argentina e Bolívia) estão condenados ao
fracasso. Por sua vez, o Brasil tem se mantido numa posição intermediária, onde
o foco se mantém na disputa pelo poder político, pela apropriação do aparelho
público e seus recursos.
Não obstante, Paulo Guedes ainda tem uma visão
otimista quanto ao futuro. Considera que a classe média está insatisfeita e
dispõe de novos meios de comunicar sua indignação, graças à internet. Espera,
assim, que a forma convencional de se fazer política seja surpreendida com o
crescente grau de rejeição - que já é maior do que parece.