Seguem alguns apontamentos que registrei na palestra
do sociólogo Domenico De Masi, no Seminário Internacional "Tendências Para
o Futuro", realizado em Vitória-ES, no dia 09/10/2013.
Domenico De Masi destacou que apresentaria 10
previsões para 2020, com base em análises realizadas por grupos de estudos em que
participa e conforme outras apresentações que já realizou.
Portanto, como o lapso temporal não é tão grande,
considerei a palestra como análise de questões atuais. Além disso, entendo que
o palestrante realizou comentários sobre pontos selecionados, e não uma efetiva
avaliação sobre tendências para o futuro.
Nesse sentido, De Masi destacou os seguintes pontos,
enfatizando que são aspectos relacionados entre si (motivo pelo qual cito cada
um abaixo):
1. LONGEVIDADE
Daqui há cerca de 8 anos, o planeta terá mais 1
bilhão de seres humanos. E, sempre que se fala em crescimento da população, vem
à baila o assunto disponibilidade de alimentos.
No entanto, ele observa que,
mesmo com crises e guerras, a população mundial vem crescendo.
Além disso, é comum destacar o envelhecimento da
população. Porém, ele não considera correto que se determine uma idade a partir
do qual a pessoa envelheça, como indicam as leis sobre aposentadoria. Cada
pessoa envelhece de forma diferente, em idade diferente, e isso é refletido
pelo consumo de produtos farmacêuticos (que aumenta consideravelmente nos 2
últimos anos de vida).
2. TECNOLOGIA
Uma pessoa culta consegue usar a tecnologia para se
tornar ainda mais culta. Assim, a grande questão não é possuir tecnologia, mas
ter a capacidade de internalizar, de metabolizar, o conhecimento que ela
propicia.
3. ECONOMIA
Em 2020, o PIB da China será igual ao dos EUA e novos
países serão agregados ao grupo dos Brics, como África do Sul, Colômbia e
Vietnam. Pela primeira vez, países que não fazem parte do primeiro mundo serão
os que enriquecerão mais rapidamente.
Na visão de Domenico De Masi, o crescimento dos
países ricos foi obtido graças à exploração de recursos dos países pobres. Mas
essa situação não se observa mais. Por isso, os países ricos vêm registrando
redução de crescimento econômico, ao contrário dos países emergentes
Assim, ele vê essa redistribuição da riqueza mundial
como fator que implica na diminuição de guerras.
4. TRABALHO
Os países do primeiro mundo vêm concentrando esforços
na produção de ideias, de inovações, no investimento em universidades,
laboratórios e escolas. A China também está integrando esse quadro.
Assim, para De Masi, o primeiro mundo seria composto
pelos países que produzem ideias, enquanto o segundo mundo diria respeito aos
países que produzem bens. Já o terceiro mundo seria composto pelos países que
apenas fornecem matérias-primas.
Nesse contexto, também são percebidas mudanças no
ambiente de trabalho, com necessidade de maior conhecimento e o surgimento de novas
práticas, como o teletrabalho.
Existe, também, um problema de redução de postos de
trabalho e aumento de desemprego, que vem despertando movimentos
reivindicatórios.
5. VIRTUALIDADE
A disseminação de novas tecnologias de comunicação
torna mais difícil que o indivíduo fique entediado e que se isole da sociedade.
Além disso, existem pesquisas que procuram
identificar remédios que funcionariam contra sentimentos ruins.
6. LAZER
Maior disponibilidade de tempo livre implicaria em
mais conflitos e violência ou em paz social?
De Mais diz que chama de "ócio criativo" o
movimento de delegar a máquinas o trabalho tedioso e perigoso, deixando aos
humanos o trabalho intelectual e criativo. Assim, ócio criativo seria trabalhar
e se divertir ao mesmo tempo. Nesse sentido, acredita que o Brasil
representaria um contexto ideal para aplicação desse conceito, pois aqui não há
muita divisão entre relações emocionais e racionais.
7. ANDROGENIA
As mulheres viverão, em média, 3 anos a mais que os
homens. Será muito comum criarem seus filhos sozinhas e estarão no centro do
sistema social. Por exemplo, ocuparão cerca de 60% das vagas nas universidades.
8. ÉTICA
O mundo em 2020 será mais rico, mas continuará
desigual. Porém, serão menos conflitos que na época industrial, pois a concentração
de trabalhadores no setor terciário é maior.
9. ESTÉTICA
A estética será o maior fator competitivo no mercado.
Afinal, atingida a finalidade prática, o que diferencia um produto é seu design e a publicidade - enfim, fatores
estéticos.
10. CULTURA
De Masi enfatiza a importância da educação, pois a necessidade
de instrução será considerada como permanente, ocupando cerca de 100 mil horas
de vida.
Verifica-se, com a internet, que a cultura vem sendo
produzida por todos e para todos, de uma forma que nunca aconteceu. E isso
destaca a importância da formação cultural.
Outras observações:
Durante sua exposição, De Masi disse que esteve num shopping center no Rio de Janeiro onde
eram vendidos carros Ferrari e helicópteros. Observou que não Itália
desconhecia da existência de um estabelecimento similar.
Assim, apresentou cenas de um documentário sobre
produção em massa de alimentos, questionando sobre o que seria necessário para
que todos tivessem um poder de consumo elevado.
Além disso, apresentou trechos de outro documentário,
que travava de um programa de incentivo à música clássica (orquestras e corais
infantis) em comunidades pobres da Venezuela.
Particularmente, fiquei com a impressão que o
pensamento de Domenico De Masi não mudou desde quando li seus livros "O
Futuro do Trabalho" (em 1999) e "O Ócio Criativo" (em 2000).
Fico com a impressão que ele tem percepções muito fluidas, não muito
consistentes, sobre o que seria essa nova concepção de trabalho - à qual,
inclusive, não me parece adequada caracterizar com a palavra "ócio".
Nesse contexto, não vislumbro essa relevância que ele
atribui ao Brasil, como ator importante em um novo paradigma de relações do
trabalho. Muito pelo contrário, parece-me que o Brasil vem ficando para trás
nesse novo contexto, como o próprio De Masi destaca nos pontos 3 e 4, sobre a
importância do investimento em inovação (que verificamos no primeiro mundo e na
China, mas não no Brasil).
Por fim, achei infeliz a inserção de trechos de
documentários sobre consumismo e projeto musical na Venezuela. O que ele quis
dizer com isso? Que devemos nos preocupar menos com bens materiais, aceitando
uma situação de suposta igualdade na pobreza, diante do totalitarismo
governamental - como é o caso do péssimo exemplo venezuelano?