O livro O
Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser um Idiota trata-se de uma
coletânea de artigos organizados por temas, com preciosas notas. São abordados
assuntos pertinentes para compreensão da realidade atual e os descaminhos do
Brasil.
Particularmente, destaco as seções finais do livro,
que tratam de "libertação" e "estudo". Sempre gostei de
estudar, mas sempre tive dificuldade em identificar o que seria relevante
estudar. É por isso que, do livro O
Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser um Idiota, considero de grande
relevância as três passagens apresentadas a
seguir.
Na primeira delas, o autor, Olavo de Carvalho, cita o
escritor Adolfo Bioy Casares, que relata ter realizados os seguintes estudos
dos 20 ao 26 anos, como essenciais para sua formação:
Naquele período de criação contínua e desafortunada,
li e estudei muito. Li literatura espanhola, com a intenção de abarcá-la na
diversidade dos seus gêneros, desde os começos até o presente, sem limitar-me
aos autores e livros mais conhecidos; literatura argentina, sem excluir formas
populares, como as letras de tango e milonga, que selecionava em El Alma que
Canta e em El Canta Claro, para uma provável antologia; literatura francesa,
inglesa, norte-americana e russa; algo da alemã, da italiana, da portuguesa
(desde logo, Eça de Queiroz); literatura grega e latina, algo da chinesa, da
japonesa, da persa. Teorias literárias. Versificação,
sintaxe, gramática. The Art of Writing de Stevenson, Dealing with Words de
Vernon Lee. Filosofia, lógica, lógica simbólica. Introduções às
ciências, classificações das ciências, introdução às matemáticas. A Bíblia.
Santo Agostinho. Padres da Igreja. A relatividade. A quarta dimensão. Teorias
biológicas. (p. 439)
Na segunda passagem, o autor indica suas próprias
fontes de estudo e aconselha a respeito:
Os filósofos que mais estudei para encontrar as
respostas (e ficam aí como sugestões para os interessados) foram Platão,
Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomás, S. Boaventura, Duns Scot, Leibniz,
Schelling, Husserl, Scheler, Lavelle, Croce, Ortega, Zubiri, Marías, Voegelin,
Lonergan, o nosso Mário Ferreira dos Santos e o Albert Camus de L’Homme Révolté
. Os grandes historiadores da filosofia, como Gomperz, Ueberweg e Zeller, devem
ser lidos com devoção. Outros autores da área de ciências humanas que muito me
ajudaram foram Ibn Khaldun, Vico, Ranke, Taine, Huizinga, Weber, Böhm-Bawerk,
von Mises, Sorokin, Victor Frankl, Paul Diel, Eugen Rosenstock-Huessy, Franz
Rosenzweig, Lipot Szondi, Maurice Pradines, Alois Dempf, Max Dvorak, Rudolf
Arnheim, Erwin Panofsky, A.-D. Sertillanges, Mortimer J. Adler, Oliveira
Martins, Gilberto Freyre e Otto Maria Carpeaux. Apesar de inumeráveis erros de
informação, a Life of Napoleon de Walter Scott também foi de muito proveito
pela acuidade da sua psicologia histórica. O maior historiador vivo hoje em dia
é Modris Eksteins (sabe o que significa “tem de ler”?). Dos poetas e
ficcionistas, aqueles que produziram verdadeiras descrições científicas da
condição humana, muito úteis nos meus estudos, foram Sófocles, Dante,
Shakespeare, Camões, Cervantes, Goethe, Dostoiévski, Alessandro Manzoni, Pío
Baroja, T. S. Eliot, W. B. Yeats, Antonio Machado, Thomas Mann, Jacob
Wassermann, Robert Musil, Hermann Broch, Heimito von Doderer, Julien Green,
Georges Bernanos e François Mauriac. A Bíblia tem de ser relida o tempo todo
(não leia o Evangelho em busca de “religião”: leia como narrativa de alguma
coisa que realmente aconteceu; atenção especial para Mateus 11:1-6, onde o
próprio Jesus ensina o critério para você tirar as dúvidas a respeito d’Ele;
penso nisso o tempo todo). O Corão, os Vedas, o Tao-Te-King e o I-Ching, assim
como os escritos de Confúcio, Shânkara e Ibn ‘Arabi, merecem consultas periódicas.
Dos conselhos pessoais que recebi de mestres generosos, a quem incomodei por
meio de cartas, telefonemas e visitas, falarei outro dia.
O importante é não estudar por estudar, para
“adquirir cultura” ou seguir carreira universitária, mas para encontrar respostas
a questões determinadas, que tenham importância existencial para você, para sua
formação de ser humano e não só de estudioso. É claro que as questões vão se
definindo aos poucos, no curso das leituras mesmas, mas à medida que isso
acontece elas vão definindo melhor o rumo dos estudos. E é essencial que, na
ânsia de ler, não deixe sua acumulação de conhecimento ultrapassar o seu nível
de autoconsciência, de maturidade, de responsabilidade pessoal em todos os
domínios da vida. Se não é capaz de tirar de um livro consequências válidas
para sua orientação moral no mundo, você não está pronto para ler esse livro.
Não esqueça nunca o conselho de Goethe: “O talento se aprimora na solidão, o
caráter na agitação do mundo.” (p. 603-604)
Por fim, a terceira passagem também diz respeito a
aconselhamento sobre como se deve proceder diante da busca de conhecimentos:
O objetivo primeiro da educação superior é negativo e
dissolvente: consiste em “desaculturar”, no sentido antropológico do termo:
desfazer os laços que prendem o estudante à sua cultura de origem, às noções
consagradas do “nosso tempo”, à ilusão corrente da superioridade do atual, e
fazer dele um habitante de todos os tempos, de todas as culturas e
civilizações. Não se pode chegar a nada sem um período de confusão e
relativismo devido à ampliação ilimitada dos horizontes. Não basta saber o que
pensaram Abrahão e Moisés, Confúcio e Lao-Tseu, Péricles e Sócrates, ou os
monges da Era Patrística: é preciso um esforço para perceber o que perceberam,
imaginar o que imaginaram, sentir o que sentiram. Não se preocupe em arbitrar,
julgar e concluir. Em todas as ideias que resistiram ao tempo o bastante para
chegar até nós há um fundo de verdade. Apegue-se a esse fundo e faça sua
coleção de verdades, não se impressionando muito com as contradições aparentes
ou reais. Aprenda a desejar e amar a verdade como quer que se apresente.
Acostume-se a conviver com as contradições, já que você não terá tempo, nesta
vida, para resolver senão um número insignificante delas. (p. 606)
À lista dos autores indicados nas passagens acima,
como referências para estudos, eu acrescento o nome de Olavo de Carvalho.
REFERÊNCIA
CONSULTADA:
CARVALHO, Olavo de. O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser um Idiota. 6. ed. Rio
de Janeiro: Record, 2013.