Em seu blog,
Luciano Takaki publicou um de seus textos mais polêmicos (transcrito abaixo):
"Por que nenhum animal tem o direito de não ser caçado" (sic). Pareceu-me interessante destacar
algumas considerações e contradições no próprio texto de Takaki:
Luciano Takaki se declara um jusnaturalista, que
reconhece o direito à vida (além da propriedade e liberdade). Não sei
exatamente em qual concepção jusnaturalista ele se enquadraria (ver aqui). Porém, Takaki declara que
o ser humano teria direito a usufruir os recursos animais, pois "não
pertencem a (sic) mesma espécie que a
gente" e "nossa espécie deve ser priorizada". Todavia, parece-me
que não existe relação entre jusnaturalismo e essa defesa especista.
Ele defende a caça, para fins alimentícios e
esportivos, "independentemente do estado de preservação da espécie que
está sendo caçada". Mas pode-se argumentar que priorizar a espécie humana
desse modo poderia implicar em efeito contrário, em prejuízo à própria
humanidade, com o fim desses recursos.
Após esse posicionamento inicial, o autor passa a
defender que os recursos animais e naturais devem ser privatizados, pois
somente sua exploração pelo mercado garantiria a disponibilidade dos mesmos. Ou
seja, sua preservação.
Dessa forma, ao que parece, ele não defende a
exploração desenfreada de recursos, inclusive animais, mas a sua exploração
eficiente e sua preservação. Seria a introdução contraditória do texto uma
provocação, para defender que a iniciativa privada é mais eficiente que
qualquer governo no que diz respeito ao uso adequado de recursos? Eu
concordaria a respeito, observando que teríamos que considerar, nesse caso, o
desejo do consumidor e como sua formação cultural influenciaria essas escolhas
(se bem que o consumidor há de ser mais racional que o eleitor).
Takaki cita o exemplo da preservação de elefantes no
Quênia (fracasso estatal) e Zimbabwe (sucesso com reservas de caça
privatizadas). Mas usa uma justificativa polêmica: afirma que os seres humanos
são responsáveis por "uma fração infinitesimal das [espécies] que foram
extintas de forma natural". Mas extinção natural seria uma coisa e
extinção provocada seria outra, certo? Não me parece adequada essa comparação.
De qualquer modo, isso não é justificativa para que os recursos naturais sejam
explorados de forma inconsequente, até mesmo sem considerar as implicações para
as gerações futuras - a ideia, afinal, não é priorizar a preservação da espécie
humana?
Takaki lembra, ainda, que "não podemos criar
fazendas para todas as espécies do mundo, e nem temos a mínima obrigação de
salvar as ameaçadas". Mas isso também não significa que teríamos a
obrigação de destruí-las.
Por fim, o autor volta ao argumento inicial, na
conclusão do texto, ao afirmar que "nenhum animal tem o direito de não ser
caçado ou de não ser morto, e nós temos o direito de caçá-los para qualquer fim".
Qual o motivo dessa afirmação? Fiquei com a impressão
que o ateísmo deixou Luciano Takaki muito insensível. É como se visse todas as
coisas de um ponto de vista egocentrista, como se o mundo estivesse aqui e ele
surgisse para usufruir, apenas. Parece-me um pensamento muito prepotente, pois
não temos tal nível de compreensão existencial. Considero ser melhor ter
conceitos, valores, ter respeito à vida, do que pensar assim.
Interessante observar que, em seu blog, Luciano
Takaki se qualifica como "o homem que ama a sua vida" e que "não
sacrifica o seu amor e nem os seus valores". Melhor incluir o respeito à
vida entre esses valores.
Segue abaixo o texto de Luciano Takaki,
disponibilizado no endereço: http://blog-do-takaki.blogspot.com.br/2014/01/por-que-nenhum-animal-tem-o-direito-de.html
Animais têm
direitos?
A resposta é curta e grossa: não. Animais não têm
direitos. Os direitos são do entendimento humano, tanto que eles criam mais
direitos do que deveriam, mas não vem ao caso. Como bom jusnaturalista acredito
apenas nos direitos naturais: vida, liberdade e propriedade. Os animais não têm
noção desses direitos e aceitar que eles têm, não apenas é nos colocar no mesmo
nível deles, mas também é nos negar o direito de usufruir de recursos que são
oriundos dos seus corpos. Não apenas da carne, mas de ossos, couro, pelo,
plumas, etc. Em A Ética da Liberdade, Murray Rothbard já argumento logo no
início do capítulo sobre os "direitos" dos animais que se os animais
tivessem direitos não poderíamos matá-los nem pra comê-los. Fora que eles não
possuem nenhuma noção de responsabilidade, tal como não pertencem a mesma
espécie que a gente, e a preservação da nossa espécie deve ser priorizada, já
que não priorizar seria o equivalente a abrir mão dos nossos direitos.
Concluindo que os animais não têm direitos podemos
concluir que nenhuma espécie está livre de ser caçada. Os motivos já serão
explicados.
A caça pode ter diversos fins, geralmente são para
fins alimentícios e esportivos. Ambas as modalidades são justificáveis,
independentemente do estado de preservação da espécie que está sendo caçada. A
caça pode ser uma atividade de mercado. Contribui com o aumento da oferta de
diversos bens, baixando assim os seus preços. Principalmente o da carne. O
resultado disso não poderia ser mais benéfico para a população. Pois bem, o
preço de diversos produtos diminuem aumentando assim o seu acesso. Então o
ecologista dirá que a caça indiscriminada de animais pode levar a extinção de
diversas ofertas provocando assim a escassez repentina. OK, não está errado,
mas como resolver? Privatizando tudo. Todas reservas florestais e mesmo
extensões oceânicas.
Quase ninguém tem o interesse de caçar o seu cachorro.
Ele vive quase que em período integral em sua casa e só sai de sua casa preso
ao dono. Claro que existem as vezes que ele pode sair de casa fugido, mas são
raríssimas vezes e ainda mais raramente alguém pode caçar. Quase não há caça
aos cães por um único motivo: geralmente cães são propriedades de seus donos e
vivem na casa que também é uma propriedade. O mesmo não acontece com animais
selvagens. Por quê? Ora, porque vivem na terra de ninguém, ou seja, florestas,
oceanos e outros tipos de regiões onde o Estado monopoliza a fiscalização é a
segurança local. A solução para isso seria privatizar essas áreas.
Caças liberadas podem salvar os animais
O Dr. Mark J. Perry, da Universidade de Michigan, fez
um interessante estudo [1] que mostra dois países próximos que adotaram
políticas diferentes acerca da preservação de elefantes. Ele mostrou bem que os
animais ficam mais bem protegidos se as áreas onde eles estão tiverem donos. E
donos humanos. Os países são Zimbábue e Quênia.
O Quênia fez o que quase qualquer outro país faria:
deixou as suas reservas florestais estatizadas e proibiu a caça aos elefantes.
O resultado foi que os elefantes quase foram extintos, já que as reservas sendo
do Estado acabam sem donos, e sem donos não há como fiscalizar, o que acarreta
numa caça indiscriminada do paquiderme, o que quase levou a sua extinção. Já o
Zimbábue "privatizou" as suas reservas, que ficaram sob o cuidado dos
cidadãos das aldeias que se situam nelas. Coube a eles se proibiam a caça de
elefantes ou não. A maioria permitiu em troca de pagamentos por cabeças
caçadas. Como isso passou a ser lucrativo houve estímulo em preservar os
animais. O resultado foi um aumento exponencial da população de elefantes.
Os animais ameaçados de extinção
Uma das justificativas para proibir a caça aos
animais silvestres seria a de preservar espécies ameaçadas de extinção. Poderia
protegê-los privatizando as reservas como a exemplo do Zimbábue sobre os
elefantes, mas há aquelas que sendo caçados ou não se extinguiriam de qualquer
maneira. Se olharmos desde os períodos mais remotos da história da Terra até os
dias atuais veremos que as espécies que foram extintas pelos humanos
representam uma fração infinitesimal das que foram extintas de forma natural. E
mesmo considerando as espécies extintas de forma antrópica isso não representa
nada mais que a nossa soberania, assim como ocorre com as outras espécies que
se sobrepôs àquelas que foram extintas.
Animais silvestres vs. animais privados
As baleias são bem vulneráveis. Atualmente apenas o Japão
e a Noruega caçam baleias. Os outros países fizeram um trato de que proibiriam
a caça, mas não resolveram o problema. As baleias são vulneráveis pelos simples
fato de viverem em terra de ninguém: os oceanos. Não há como fiscalizar
eficientemente a caça e elas sempre tendem a ir para as regiões pertencentes a
países onde a caça é permitida (o Japão e a Noruega ficam no Hemisfério Norte e
são banhados pelo Oceano Pacífico e Atlântico, respectivamente).
Os animais criados em fazendas tendem a manter uma população
crescente. Já que eles se encontram em propriedade privada. Ou seja, onde eles
vivem existe não apenas o estímulo para incentivar o crescimento como ainda por
cima ter lucro em cima disso. Bois, porcos, frangos, bodes, carneiros, patos,
etc, jamais entrarão em extinção enquanto nós, humanos, existirmos. O ser
humano impediu todas essas espécies de se extinguirem, já que nenhum deles
sobreviveria muito tempo em um ambiente selvagem. Mas lembremos que não podemos
criar fazendas para todas as espécies do mundo, e nem temos a mínima obrigação
de salvar as ameaçadas. O nosso foco deve ser somente naquelas que nos servem.
O elefante nos oferece marfim. É justo que ele seja preservado, mas é
dificílimo criá-los em fazendas devido ao seu alto custo. Zimbábue, com o único
acerto da história do seu governo, pode nos dar um exemplo. Por isso a
privatização de todas as reservas e parques deve ser considerada. Mesmo com a
exploração ele pode mostrar que assim há uma preservação muito maior do que
usando o truculento método estatal.
As caças não são apenas válidas como nosso direito.
Elas ajudam a aumentar a oferta de diversos bens reduzindo o seu preço e
tornando-os acessíveis para quem possui uma baixa renda. Por isso nenhum animal
tem o direito de não ser caçado ou de não ser morto, e nós temos o direito de
caçá-los para qualquer fim. Pelo nosso bem.