A primeira parte do livro trata de quando o jovem Isaías
Caminha decide se transferir para o Rio de Janeiro, deixando sua vida no
interior, com intento de trabalhar e estudar.
Mas, uma vez no Rio, acaba se desiludindo ao tomar
contato com intrigas e apadrinhamentos. Desalentado, se envolve com más
companhias e mostra fragilidade para arrostar a cidade e suas arapucas. Acaba
passando fome.
Por fim, consegue ofício num jornal em ascensão. E
essa é segunda fase do livro, quando suas reflexões sobre os modos locais, a
politicagem e os jogos de interesse se tornam mais explícitas.
Na transição de uma fase, como estudante em busca de
posição, para outra, trabalhando no jornal, Isaías Caminha se perde. Ele vinha
de uma situação de destaque, embora em escola pequena do interior, mas se
adequava ao aprendizado, tinha inclinação à intelectualidade. Não obstante,
quando muda para o Rio de Janeiro, e começa a se deparar com obstáculos para
obtenção de um emprego, ao invés de aceitar uma posição secundária (o que seria
natural para quem busca um primeiro trabalho), acaba por se acomodar. Passa,
progressiva e rapidamente, a abandonar as aspirações a uma maior erudição,
passa a se contentar em viver de aparências, diante do comportamento dos
colegas do jornal. E, assim, foi cooptado por aquela sociedade.
Resta para Isaías Caminha recordar não o que fez, o
que atingiu na vida, mas o que deixou de fazer, diante da sensação de quem não
se empenhou com todas as forças, que não chegou até onde poderia ter ido pelo
trabalho e pelo estudo. A sensação de quem se deixou acomodar, que não seguiu sua
vocação.
Em certa passagem do livro, Isaías Caminha conhece
uma bela moça, concubina de um político. Posteriormente, ele a vê sendo presa.
Reflete sobre o por quê dessa moça ter tal desígnio, sobre quais decisões
equivocadas teriam levado a tal infortúnio. Tal reflexão serve para o próprio
Isaías. E também para a sociedade brasileira, tanto daquele tempo quanto presentemente.
REFERÊNCIA:
BARRETO, A. H. de Lima. Recordações do Escrivão Isaías Caminha. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1865>.
Acesso em: 11 mai. 2014.