* Artigo elaborado a partir de dissertação de
mestrado em contabilidade (disponível aqui).
RESUMO:
Este trabalho tem como objetivo identificar aspectos
relevantes na caracterização de sistemas de remuneração variável, considerando
um grupo de empresas no setor moveleiro e uma abordagem com base na Teoria da
Contingência. Na identificação e descrição dos aspectos mais relevantes dos
sistemas de remuneração variável, adotou-se uma metodologia de pesquisa
qualitativa, com realização de entrevistas in
loco. Concluiu-se pela pertinência da abordagem adotada na identificação
dos principais aspectos dos sistemas de remuneração variável estudados, bem
como o fato das empresas procurarem o ajuste possível (nem sempre o ideal)
frente às suas necessidades e ao dinamismo desses fatores.
1
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é identificar os principais
aspectos que justificam e influenciam a implantação e adequação de sistemas de
remuneração variável com base em desempenho. Considerou-se, como objeto de
estudo, um grupo de empresas do pólo moveleiro de Linhares, localizado no
Estado do Espírito Santo (ES).
Foi adotada uma metodologia de pesquisa qualitativa, pois
não se pretende testar hipóteses previamente formuladas, mas identificar
aspectos relevantes em uma dada realidade. Nesse sentido, realizou-se uma
pesquisa bibliográfica prévia, para identificação de questões relevantes, mas
não exaustivas, que pudessem auxiliar na elaboração de roteiro de entrevista.
Diante desses propósitos, foi considerado o seguinte
questionamento: quais os principais aspectos que influenciam as decisões de
implantação e operação de sistemas de remuneração variável, considerando as
empresas do pólo moveleiro de Linhares-ES?
Para tal, foi adotada uma abordagem com base na Teoria
da Contingência, que considera como os fatores contextuais (contingenciais)
afetam o funcionamento e desempenho das organizações (Aguiar & Frezatti,
2007; Covaleski, Dirsmith, & Samuel, 1996).
Para a Teoria da Contingência, as mudanças ambientais
são graduais e exigem a adaptação das organizações. Considera-se que quanto
melhor e mais rápida a adequação das organizações às alterações no ambiente,
maiores as chances de sucesso no desempenho organizacional (Guerra, 2007, p. 22,
como citado por Junqueira, 2010, pp. 23-24).
Desse modo, alterações no ambiente levam as
organizações de um estado inicialmente adequado (fit) para um estado de desequilíbrio (misfit), o que demanda ajustes frente às novas variáveis
contextuais. Assim, as organizações necessitam se adequar constantemente às
condições ambientais, devendo os sistemas de controle gerencial acompanhar esse
dinamismo (Donaldson, 2001, p. 12, como citado em Junqueira, 2010, p. 36; Guerra,
2007, p. 22; Rosseto & Rosseto, 2005).
Observa-se ainda que, diante de um desempenho
insatisfatório, a resposta da organização pode considerar alterações na
estratégia adotada, na estrutura operacional, na tecnologia, mudanças de
mercado etc. Dessa forma, os próprios ajustes realizados podem ensejar alterações
em variáveis contextuais, tornando necessárias novas adaptações, num processo
dinâmico de busca pelo melhor encaixe organizacional (Guerra, 2007, p. 48).
Isso posto, considerou-se como sistemas de
remuneração variável (aqui tratados também como sistemas de incentivo
financeiro ou de pagamento por desempenho) a relação de trabalho onde parte da
remuneração é determinada com base em metas previamente estabelecidas (Lemieux,
MacLeod, Parent, 2009; Gunderson, 1975).
Dentre os sistemas de controle gerencial, os sistemas
de remuneração variável são importantes para coordenação e motivação dos
integrantes das organizações. Trata-se de questão de destaque no âmbito da
contabilidade gerencial, que normalmente está envolvida na estruturação desses
sistemas (Lopes & Martins, 2005, p. 95 e 99; Atkinson et al., 2001, as cited in
Bonner & Sprinkler, 2002; Indjejikian, 1999, as cited in Bonner & Sprinkler, 2002).
2
METODOLOGIA DE PESQUISA
A pesquisa desenvolvida é classificada como
qualitativa, pois busca a explicação de um problema pela exploração de um
fenômeno, dentro de um determinado contexto. Procura-se interpretar, extrair um
sentido de informações e dados, realizando-se comparação com a literatura
existente (Creswell, 2007, p. 88, pp. 198-199; Godoy, 1995).
A pesquisa também pode ser caracterizada pela
aplicação do método survey, que diz
respeito à obtenção de informações sobre fatos, opiniões e atitudes de um certo
grupo, com o intuito de explorar, descrever, explicar ou procurar generalizar
os resultados para uma dada população (Bennett, Khangura, Brehault, Graham,
Moher, Potter, & Grimshaw, 2011; Hackett, 1981; Babbie, 1973, as cited in Hackett, 1981; Bryson, Turgeon,
& Choi, 2012).
Em pesquisa qualitativa, a definição dos
participantes da amostra pode se dar intencionalmente, conforme o grupo
selecionado seja o mais indicado para compreensão da questão proposta. Ao invés
de seleção de um grande número de participantes ou de uma amostragem aleatória,
podem ser considerados aspectos como o cenário onde a pesquisa irá ocorrer,
quem serão os entrevistados, quais os eventos relacionados e a dinâmica do
ambiente onde esses participantes se inserem (Creswell, 2007, pp. 189-190).
Dentre os métodos não probabilísticos para definição
de amostra, na amostragem jugamental (judgmental
sampling) há seleção intencional dos elementos mais representativos de um
grupo (critical cases), conforme o
enfoque pretendido (Hackett, 1981; Freitas, Oliveira, Saccol, & Moscarola,
2000).
Diante disso, para definição amostral, considerou-se
que, embora o Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário de Linhares
(Sindimol) conte atualmente com 86 empresas filiadas, a participação nas ações
conjuntas do pólo moveleiro é limitada a um número reduzido de empresas.
Observa-se, ainda, que o sindicato tem representatividade para todo o setor
moveleiro da região norte do Estado do Espírito Santo, não abrangendo apenas
fábricas de móveis, mas também fornecedores e segmentos relacionados, como
embalagem, cortinados, vassouras e beneficiamento de madeira (Somtimes & Sindimol,
2013).
Portanto, a utilização de critério probabilístico na
seleção da amostra não se mostraria adequada para os objetivos da pesquisa,
pois poderia implicar na seleção de empresas pouco similares, inclusive de
localidades distantes, o que comprometeria a identificação de aspectos
contingenciais.
Para definição da amostra, foi questionado ao gerente
executivo do Sindimol quais seriam as empresas mais representativas do pólo
moveleiro de Linhares, em termos de participação junto ao sindicato. Assim, foi
apresentada uma lista de doze empresas, com a respectiva indicação de contato
dos responsáveis para tratar do assunto proposto.
Da referida lista foi excluída uma empresa, por se
tratar de fabricante de matéria-prima. Todas as onze empresas restantes se
constituíam de fabricantes de móveis de madeira para uso residencial.
Acrescentou-se à amostra duas outras fábricas de
móveis de madeira, por apresentarem adequação ao perfil do grupo e
disponibilidade para participação no estudo.
Também foram adicionadas à lista três fábricas de
móveis estofados, segmento que tem menor participação junto ao sindicato patronal,
mas que se mostra intensivo em mão de obra e poderia servir como contrapondo ou
complemento às políticas identificadas nas demais empresas da amostra.
Dessa forma, chegou-se a um conjunto de dezesseis
empresas para o estudo. Não obstante, conforme disponibilidade dos contatados, somente
foi possível realizar entrevistas em doze empresas.
O quadro seguinte caracteriza as empresas da pesquisa,
que serão designadas pelas letras respectivamente indicadas:
Para caracterização dos sistemas de remuneração
variável adotados nas empresas, optou-se pelo critério de entrevistas
semi-estruturadas, onde o pesquisador segue um roteiro pré-definido, dirigindo
a entrevista, em contexto semelhante a uma conversa informal (Boni & Quaresma,
2005).
O cronograma para realização das entrevistas foi
estabelecido no período de julho a agosto de 2013, com apenas uma visita a cada
empresa - seleção de um único momento para obtenção de informações (Freitas et al., 2000).
Para realização das entrevistas definiu-se que as
empresas e os entrevistados não seriam identificados, restringindo-se à
caracterização da amostra, conforme recomendado por Günther (2003). Tal
posicionamento foi reforçado no início de cada entrevista.
Também optou-se por não gravar as conversas, posto
que a presença de gravador poderia causar inibição e constrangimento ao
entrevistado, e mesmo levá-lo a assumir um papel que não seria o seu, como que
incorporando um personagem para o entrevistador, de forma consciente ou
inconsciente (Boni & Quaresma, 2005).
Também foi ponderado que a presença de gravador
poderia inibir a indicação de alguma informação reservada a respeito das
práticas adotadas. Entendeu-se que o registro de anotações seria suficiente
para caracterizar cada sistema de remuneração variável avaliado.
Não obstante a limitação decorrente da decisão de não
gravar as entrevistas, certas afirmações, de maior ênfase para destacar as
características dos programas pesquisados, foram registradas para indicação no
estudo de caso.
3 ESTUDO DE
CASO
O setor moveleiro se caracteriza pela formação de
"arranjos produtivos locais" ou clusters.
Embora existam divergências conceituais, pode-se caracterizar os arranjos
produtivos locais pela concentração geográfica de empresas de um mesmo
segmento, não necessariamente com grande interação entre as mesmas, mas sendo
verificável a obtenção de ganhos de eficiência comuns, propiciando
oportunidades de cooperação e crescimento a seus integrantes (Schmitz, 1997, as cited in Denk, 2002; Porter, 1990, as cited in Behr et al., 2010; Mafia, 2005, p. 36 e 47; Santos, Diniz, & Barbosa,
2004).
Registra-se ainda que, desde sua formação, as
empresas do pólo moveleiro de Linhares apresentam uma cultura de seguir
empresas líderes locais, através da absorção de mão de obra, definição de
mercado de atuação, métodos de produção etc. (Sindimol, 2007)
Tal constatação está em acordo com o conceito de
isomorfismo mimético, segundo o qual as organizações procuram soluções
similares às de outras instituições que se encontrem ajustadas ao ambiente
(organizações líderes). Trata-se de uma forma de evitar incertezas e riscos
para as operações, de aumentar a probabilidade de se conseguir um melhor
encaixe junto ao ambiente onde a empresa se insere (Rosseto & Rosseto,
2005).
3.1
ASPECTOS CONTINGENCIAIS DOS SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO VARIÁVEL
Considerando análise bibliográfica realizada, bem
como aspectos observados nas entrevistas, são identificados adiante os fatores
de maior relevância na caracterização de sistemas de remuneração variável
avaliados.
Cabe destacar que a abordagem adotada, com base na
Teoria da Contingência, leva em conta a influência de fatores externos e
internos nas decisões organizacionais. Embora não se tenha intencionado um viés
para tal análise, a pesquisa acabou enfatizando fatores que poderiam ser
classificados como aspectos internos às organizações. Não obstante, a
influência de fatores externos também é identificada e não se verifica
comprometimento do referencial adotado ou das observações deste estudo. Como a
influência de fatores externos e internos, bem como a interação entre os
mesmos, é algo inerente a uma abordagem com base na Teoria da Contingência, não
houve preocupação em estabelecer esse tipo de classificação.
3.1.1
Assimetria de informação entre empregados e empregadores
Verificou-se que todas as empresas do estudo realizam
pagamento de remuneração variável com base na assiduidade ao trabalho. Isso
decorre não apenas da compreensão da importância desse aspecto no desempenho
organizacional, mas, também, conforme destacado por vários entrevistados, pela
facilidade dos contratados em obter atestados médicos, que ensejariam o abono
de faltas ao trabalho.
Outro aspecto apontado é que a região de Linhares-ES
vem apresentando desenvolvimento econômico nos últimos anos, particularmente
com a instalação de novas indústrias, de segmentos diversos. Com isso, as
empresas relatam dificuldades na contratação e manutenção de trabalhadores.
Indicam que tal situação pode implicar em menor comprometimento dos
funcionários, cientes que não teriam eventualmente grande dificuldade em
conseguir outro emprego.
Nesse contexto, a aplicação de sistemas de
remuneração variável torna-se importante como ferramenta para desestimular
comportamentos adversos por parte dos empregados.
Além de considerarem a importância de sistemas de
remuneração variável para o desempenho operacional, os entrevistados
ressaltaram o fato de outras empresas do pólo moveleiro adotarem sistemas
semelhantes, sendo que não implantar algum programa de remuneração variável
poderia implicar na perda de funcionários.
3.1.2
Critérios objetivos e subjetivos em avaliação de desempenho
Baker, Jenses and
Murphy (1988) observam que sistemas de pagamento por desempenho podem ter
critérios de avaliação objetivos e subjetivos. Critérios objetivos se referem a
indicadores mais facilmente verificáveis, como número de peças produzidas,
tarefas realizadas, volume de vendas, lucros de determinada divisão etc. Já
critérios subjetivos dizem respeito a aspectos que requerem valoração pessoal,
como avaliação de desempenho dos empregados por um supervisor.
Todas as empresas da pesquisa relataram adotar
critérios objetivos para determinar o pagamento de remuneração variável.
Não obstante, alguns aspectos subjetivos podem ser
identificados, por exemplo na avaliação de organização de postos de trabalho
(empresas C, I e K). Além disso, algumas empresas realizam acompanhamento
pessoal, de cunho orientativo, a funcionários com maior registro de faltas
(empresas J e K). Porém, tratam-se de aspectos secundários, sendo
majoritariamente considerados quesitos objetivos na apuração de remuneração
variável.
3.1.3
Avaliação com base no desempenho de grupo e individual
Estudos realizados por Marriott (1949, as cited in London & Oldham, 1977) e
Schwab (1973, as cited in London
& Oldham, 1977) indicaram que pagamento com base em desempenho individual
se mostra mais efetivo que pagamento com base no desempenho de um grupo.
Dentre as empresas da amostra, é preponderante a
avaliação com base individual, porém com foco no aspecto da assiduidade. Quando
se trata de outros fatores, como cumprimento de metas de produção, nível de
faturamento, índice de defeitos, organização no ambiente de trabalho etc., não
ocorre avaliação pessoal, mas setorial. Nesse caso, quando atingidas as metas
de um grupo ou setor, a premiação é dividida de forma igual entre seus
integrantes.
3.1.4
Avaliação com base em quantidade e qualidade
Sistemas de remuneração variável com base de apuração
quantitativa (peças produzidas, tarefas realizadas etc.) podem implicar em
problemas de qualidade. Por isso, é desejável existir um meio de identificar os
responsáveis por eventuais problemas, para que os mesmos procedam a devida
reparação (Laezar, 2000).
Na maior parte das empresas pesquisadas, porém,
aspectos de qualidade dos produtos não são indicados como critério direto para
apuração de remuneração variável. Provavelmente em virtude das características
da produção seriada de móveis, com uso intensivo de maquinário, além de
dificuldades práticas.
3.1.5 Avaliação
com base na assiduidade
Brooke and
Price (1989) enumeram fatores que influenciam no maior absenteísmo ao trabalho,
dentre os quais destacam aspectos familiares, alcoolismo, inexistência de
políticas claras e de tolerância a faltas na organização (se a gerência tem
postura de tolerância quanto ao absenteísmo, este tende a ser maior).
Conforme relatos nas entrevistas, e pela observação
dos critérios dos programas descritos, existe grande preocupação nas empresas
com a questão da assiduidade ao trabalho. De fato, todas as empresas do estudo
estabelecem um valor de premiação mensal com base na assiduidade. A única
exceção é a empresa A, onde o pagamento de premiação é definido apenas com base
em quantidade de peças produzidas, porém procedendo-se desconto em caso de
faltas (ou seja, a assiduidade é considerada de forma indireta).
De modo geral, os entrevistados se declararam
satisfeitos com aplicação de programas de remuneração variável para redução da
abstinência ao trabalho. Exceção a respeito é a empresa J, onde tal medida não
é considerada suficiente para gerar comprometimento. Relatou o diretor
administrativo: "A gente tem que adotar alguma forma de premiação porque
todas as empresas fazem isso, senão vamos perder funcionários".
3.1.6 Lapso
temporal no pagamento de remuneração variável
Aldis (1961) indica que deve-se atentar para que o
lapso temporal entre o trabalho realizado e o respectivo pagamento seja o menor
possível, como forma de estimular o desempenho no trabalho.
Cabe destacar que a convenção coletiva de trabalho do
setor moveleiro de Linhares-ES estabelece que o pagamento do salário deve se
dar em dois momentos, com adiantamento de 40% do valor mensal até o vigésimo
dia do mês.
Em geral, as empresas do estudo realizam pagamento de
remuneração variável juntamente com a segunda parcela do salário (até o quinto
dia útil do mês subsequente), embora tal não seja o caso na empresa A (como
política de evidenciar o valor correspondente à remuneração variável) e da
empresa C (que utiliza um sistema particular de pagamento trimestral).
Desse modo, levando em conta questões de ordem
prática, o lapso temporal mensal para pagamento de remuneração variável,
observado nas empresas do estudo (exceto empresa C), pode ser considerado como
adequado.
3.1.7 Revisão
de valores e critérios de avaliação
Sobre a dificuldade na revisão dos critérios e
valores adotados, Blay (1995, p. 27) alerta que se os trabalhadores perceberem
que os padrões de desempenho futuro terão seus patamares elevados com base no
desempenho atual, podem adotar postura contrária ao aumento de produtividade.
A maioria das empresas do estudo atribui um valor
fixo para pagamento de remuneração por desempenho. Esse valor é revisto
anualmente, com base no percentual de reajuste definido na convenção coletiva
do setor.
Existem casos,
porém, onde não há um critério estabelecido para revisão dos valores de
remuneração por desempenho. A empresa I, por exemplo, determina a remuneração
variável com base na avaliação de metas, sem um critério para reajustes. O
entrevistado observou que "não existe um período para revisão do programa,
isso será considerado conforme necessidade."
Outra exceção diz respeito à empresa A, que, desde
quando instituiu sistema de remuneração variável com base na quantidade de peças
produzidas, nunca realizou revisão nos valores estipulados para premiação. O
entrevistado (sócio-diretor) disse que "os funcionários estão questionando
isso, por causa do ajuste na convenção coletiva, mas ainda não parei para
analisar".
3.1.8
Adequação dos sistemas de remuneração variável à legislação trabalhista
O Direito do Trabalho, no Brasil, tem características
de rigidez e intervencionismo, dificultando a adequação das relações de
trabalho ao dinamismo da economia (Siqueira, 1996, como citado em Busnello,
2000; Ferretti & Funchal, 2011).
Na jurisprudência trabalhista brasileira predomina um
entendimento contrário à liberdade empresarial, o que favorece uma cultura de
falta de confiança nas relações laborais (Ahrens, 2011; Ramos, 2012; Gonzaga,
2003; Ferretti & Funchal, 2011; Robortella, 2011, como citado em Pastore, Werner,
& Marx, 2011).
Somente duas das empresas pesquisadas (E e G) têm
programas de remuneração por desempenho regulamentados em acordo coletivo junto
ao sindicato dos trabalhadores.
Observou-se, porém, que algumas empresas, quando da
realização das entrevistas, estavam em fase de estudo, implantação ou revisão
de programas de remuneração variável (empresas B, E, F, J, K). Tal se
justificava diante das últimas alterações na convenção coletiva de trabalho.
3.1.9 Resultados
e análises
Além de considerarem a importância de sistemas de
remuneração variável no desempenho operacional, os entrevistados ressaltaram o
fato de outras empresas adotarem programas semelhantes, sendo que não implantar
algum programa de incentivo poderia implicar na perda de funcionários
qualificados.
Diante disso, cabe considerar que, dentre os aspectos
de influência ambiental, as empresas estão sujeitas a pressões de mimetismo,
quando são forçadas a adotar soluções aplicadas por seus concorrentes
(isomorfismo mimético), caso contrário ficam em posição de desvantagem no
mercado (Ma & Tayles, 2009; Oyadomari, Cardoso, Medonça, & Lima, 2008).
Dadas as características do pólo moveleiro de
Linhares-ES, tal constatação corrobora a percepção que as empresas atribuem
grande peso às práticas adotadas pelos demais integrantes do ambiente em que se
inserem, realizando adequações em suas estratégias operacionais.
As limitações do ordenamento legal trabalhista não
foram intensamente evidenciadas nas empresas pesquisadas, ao contrário do que
se poderia esperar. Talvez isso se deva ao fato da maioria das empresas da
pesquisa encontrar-se em fase de reestruturação de seus sistemas de remuneração
variável, diante de mudanças na convenção coletiva e da interação com as demais
empresas do ambiente.
4 CONCLUSÃO
Procurou-se, neste trabalho, identificar aspectos
relevantes na implantação e operação de sistemas de remuneração variável, em um
dado contexto, diante de abordagem com base na Teoria da Contingência.
Conclui-se que a análise proposta mostrou-se válida,
pois, considerando um único segmento industrial, com estruturas de operação
semelhantes e numa mesma localidade, levando ainda em conta a postura das
empresas em seguir as líderes de mercado, verificou-se, mesmo assim, que a
implantação e operacionalização de sistemas de remuneração variável compreende
características peculiares a cada organização.
Portanto, as soluções aplicadas em uma empresa,
embora sirvam de referência para adoção de práticas em outras organizações,
devem levar em conta fatores específicos de sua realidade (incluindo suas
estratégias, políticas administrativas, cultura organizacional etc.).
Além disso, verifica-se que a adaptação
organizacional ao ambiente nem sempre é a mais adequada. Trata-se do ajuste
possível, frente aos aspectos contextuais, que são dinâmicos. E a adequação aos
aspectos ambientais pode implicar em uma nova situação de inadequação, que
deverá ser tratada.
É interessante destacar que as limitações no
ordenamento legal trabalhista não foram evidenciadas nas empresas pesquisadas.
A esse respeito, deve-se considerar que a maioria das empresas encontrava-se em
fase de reavaliação e adequação de seus sistemas de remuneração variável, devido
a mudanças na última convenção coletiva.
Isso não quer dizer, todavia, que as limitações da
legislação trabalhista possam ser negligenciadas, dado seu potencial de
interferência na aplicação desses sistemas.
Espera-se que a abordagem aplicada e os aspectos
identificados na pesquisa sejam úteis para futuros estudos, que considerem
outros setores e realidades empresariais, bem como para reflexão em decisão de
implantação de programas de remuneração variável.
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