"O Otimista
Racional" (The Rational Optimist) tem um título que o desvaloriza, dando a
entender tratar-se de algo relacionado a auto-ajuda. Na verdade, porém, é um
excelente livro sobre economia, história e sociologia.
Entre vários tópicos relevantes, é tratada a questão da revolução agrícola, cujo uso de sementes geneticamente selecionadas ou modificadas, de fertilizantes e de pesticidas permite hoje que bilhões de pessoas sejam alimentadas sem aumento na área total cultivada, preservando o meio ambiente. Destaco:
Considere esta extraordinária estatística, calculada
pelo economista Indur Goklany. Se as produtividades médias de 1961 tivessem
prevalecido em 1998, alimentar 6 bilhões de pessoas teria exigido lavrar 7,9
bilhões de acres, em vez dos 3,7 bilhões arados de fato em 1998: uma área extra
do tamanho da América do Sul menos o Chile.
Dito isso, lembrei-me de
quando cursei o Executive MBA na Business School de São Paulo[1],
nos anos de 2004 e 2005. Um professor americano, que lecionava disciplina
relacionada a economia, apresentou a ideia que, diante da discussão à época a
respeito do uso de sementes transgênicas, o Brasil deveria adotar a estratégia
de não fazer uso de sementes geneticamente modificadas (como se fosse possível
impedir a entrada de sementes no país). Com isso, defendia ele, haveria
argumento para exportar um produto diferenciado e até mais caro.
Veja que se tratava de um
professor em curso direcionado para executivos, a maioria dos quais trabalhando
em cargos de direção em grandes organizações.
Imagine o desastre que
resultaria a adoção de uma ideia dessas. Seriam necessárias mais áreas de
produção, resultando em degradação ambiental, para produzir a mesma quantidade
ou até menor. Além disso, como os últimos anos vêm demonstrando, o mundo
ficaria privado de um país relevante na produção de alimentos, de modo que essa
ideia contribuiria para a fome.
O que levaria um professor,
nesse tipo de instituição, a defender tal ideia?
Incapacidade, visão estreita,
motivos escusos? Ou pura ingenuidade, de alguém que apenas acompanhava o
noticiário padrão, dado que aplicativos como Youtube só iniciaram a partir de
2005?
A questão é que esse tipo de
visão, relacionada ao ativismo verde ingênuo e/ou manipulado, há muito é
disseminado na visão de professores, alunos e empresas. E o atual modismo das
práticas ESG (Environmental, Social, and corporate Governance) tem o potencial
de causar grandes danos, em prejuízo social e ambiental.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
RIDLEY, Matt. O Otimista
Racional. Rio de Janeiro: Record, 2014.